domingo, 26 de maio de 2013

A Saliva Do Teu Desprezo- Parte 2


Foto: Aceofla
- Isso é maluquice de pervertidos!
- O que é que há? O “grande” John Doe não passa mesmo de um bêbado metido a intelectual que se diverte humilhando menininhas ricas promíscuas, como sabe qualquer garçom de boteco vagabundo de Golden Crap?
Minha mão fechada em ódio se enterrou em sua barriga macia até o fundo de seu estômago. Ela cambaleou, encolheu-se, dobrou os joelhos e quando me olhou de lá de baixo vomitou um tanto de Cutty Sark com cheiro de azedo misturado com um pouco de algo que havia comido. Um sorriso de estranha felicidade foi se insinuando pela máscara de dor, enquanto ela tentava recuperar um pouco do ar que havia perdido com o murro. Então com um suspiro misto de dor e satisfação uivou como um lobisomem para uma lua triste e começou a mijar no assoalho.
- Good.  Mas só não no rosto, eu peço.
Em instantes, novamente ereta, emborcou mais whisky com sofreguidão. Apesar do que ela havia dito sobre ser uma masoquista sem limites conhecidos para a dor, espantoso que ainda estivesse em pé com tamanha naturalidade.
Suportar o sofrimento era a linguagem do prazer de seu corpo.
Língua pastosa úmida de saliva quente lambe a azulada face provocante da Marilyn Monroe que trago tatuada no braço esquerdo.
- Linda demais. Com ela iria para a cama sem pensar.
Eu estava hipnotizado como um coiote no meio da pista da Rota 66 olhando para os faróis potentes de um Chevy 57 vermelho, paralisado, pronto para ser atropelado por pneus Super Goodyear faixa branca de borracha duplamente vulcanizada. Atropelar coiotes traz muito azar... para os coiotes, é claro.
Acendeu um Marlboro, piscou com malícia para o inconfundível click de fechamento do Zippo prateado, tragou com vontade e com a mão fria (mau sinal) acariciou minha face.
- Não tenha medo do que eu e você sabemos que você é. Lembre-se do que falou a minha mãe puta san: conhece-se a potência de um homem pela intensidade de sua imaginação. Não pare.
A impertinência daqueles seios apontados insolentes para mim daquele indefeso corpo nu de fêmea danificada era insuportável. Apertei e torci seus mamilos com uma crueldade de que nunca me julguei capaz. Umidade pegajosa entre meus dedos. Seu grito calou-se com uma mordida dolorida em meu ombro. Arranquei o cigarro de sua mão, apontei a brasa para seu seio e hesitei.
- Calma, escolha à vontade, ainda há muito espaço.
Abracei-a forte e com frieza estudada, localizei o ponto mais deliciosamente carnudo de sua bunda e ali enterrei com determinação o Marlboro aceso. Ah, o familiar cheiro adocicado de carne humana queimada como nas trincheiras da Coreia. Meu grito encobriu o dela: apesar de eu estar de camiseta, havia conseguido enterrar com força as unhas em minhas costas.
Com raiva joguei-a sobre a cama.
- Você me machucou sua puta doentia!

O espelho leproso do armário do banheiro mostrava definidas as marcas sangrando em minhas costas. Molhei uma toalha tentando parar o sangramento. Eu ia comer essa filha de uma puta na porrada.
Na cama, pernas abertas, a ordinária fumava tranquilamente.
Belíssima.
Sem lhe dar chance de defesa, coloquei a mão entre suas pernas e apertei as carnes de sua boceta esmagando com toda a força que consegui. O grito agora era insuportável – capaz de acordar o sono das pedras - até para aquela vizinhança. A toalha em sua boca resolveu a questão.
Não sei por quanto tempo mantive aquele aperto, mas lágrimas começaram a escorrer abundantes daqueles olhos quase traços.
Esmurrei decidido os lábios de sua boceta e depois a larguei.
Ela exibia um sorriso de felicidade parindo-se em gozo de dentro do retorcido de sua careta de dor intensa.
- Não se iluda, John Doe, essas lágrimas são em homenagem à dor que me causa, não a você.
A reação foi instintiva, levantei a mão...
- Não no rosto, é só o que peço. Faça o que quiser com o resto de mim.
Minha experiência em delegacias de Rotten Angels, como preso é claro, acabou vindo à tona (No dia em que tiras se especializarem em Medicina Legal inventam o câncer sem tumores comprometedores). Enrolei a toalha molhada e passei a golpear aquele delicioso corpo disponível. Dor intensa sem marcas permanentes. Acho que até a megera da portaria seria acordada de seu coma alcoólico com os gritos. Arranquei a fronha de um dos travesseiros e amordacei-a. Puxando-a pelos cabelos, levei-a até o banheiro, arranquei a corda da caixa de descarga e amarrei-a o mais apertado que consegui. Atirei-a de volta na cama, tirei o cinturão e falei, sorrindo sem querer.
- Se é do que gosta, é o que vai ter. Longe de mim não ser cavalheiro o suficiente para atender aos desejos de uma mulher.
O couro passou a descer pródigo e com violência sobre suas carnes. Agora não mais gritos, apenas urros e, sem dúvida, de prazer. As contusões que meu espancamento ia deixando transformavam aquele corpo já tão flagelado numa indescritível bagunça de contusões. Filetes de sangue aqui e ali em suas costas e bunda. Nem percebi que agora estava batendo com o lado da fivela. (Cordeiro de Deus sangrai por nós).

Suando feito um porco. Mais um gole no gargalo.
- Está com sede, ordinária? Quer um pouco?
Não sei em qual recanto imundo de meu cérebro nasceu a ideia, mas aquele cu arreganhado me encarando desafiador do meio daquela bunda não podia ficar ileso.
Enfiei sem dó o gargalo até sentir uma resistência impossível de ser vencida. Uma parte do corpo da garrafa também havia entrado. O álcool devia estar fazendo uma baderna quente de incêndio no interior daquele rabo. Ela urrava de um jeito estranho: acho que agora não era só por prazer.
- Tem razão nas duas coisas, sua puta: sou um bêbado e tenho paladar refinado. E você? Gostando de experimentar por esse cu arrombado o mágico destilado escocês fruto de sortilégio, magia e feitiçaria gaélica? Vamos, deguste por esse rabo de puta tarada as sofisticadas nuances de paladar da água da vida, o uísque beatha, sacrifical sangue da Escócia, malte cevado em reunião de bruxas dançando em volta de fogueira de fumaça com cheiro de turfa queimada.
Arranquei a garrafa que saiu do cu fazendo um ruído engraçado.
- Não perca uma gota sequer ou eu te mato, vadia.
Apanhei um dos copos, coloquei-a de cócoras e ordenei:
- Ponha para fora!
Da mordaça improvisada um ruído abafado de hesitação e revolta entre lágrimas quentes.
- Mandei, não pedi sua puta!
Seu estupendo seio esquerdo transformou-se em geleia na palma de minha mão. Após o urro desesperado de dor veio a obediência em humilhação.
No início o líquido veio gotejando dourado por aquele pequeno buraquinho carnudo. Depois um jato irregular mas constante enchendo o copo da límpida e brilhante mistura de malte, cevada e álcool. E de coisas lá de dentro do corpo dela, claro.
- As lágrimas gotejantes do pranto delirante da dourada feiticeira que corre quase tanto quanto o vento de um sábado de neblina de bruxaria à meia noite, mas que não pode passar por sobre o rio. Derrama seu pranto por amor ao Príncipe do Mal que a quer, mas também por seu destino de ser só mais uma noiva no sabá, nunca a única, a preferida.
Aquilo soava como o doentio discurso de um bêbado descontrolado totalmente endoidecido.
Exatamente o que eu era naquele momento.
Êxtase quase místico ao testemunhar o vidro se transmutando em cristal.
Gole guloso e o deleite da inusitada mistura de um legítimo Cutty Sark temperado com o picante paladar do inusitado sabor do mais profundo interior de uma fêmea excitada em sofrimento.
Não podia esquecer de escrever uma carta aos fabricantes do Cutty Sark, pois em mais de um século, estou certo, jamais uma garrafa de seu refinadíssimo produto etílico foi utilizada daquela maneira.
Empurrei sua cara para o travesseiro, caí de costas no colchão e respirando exausto fiquei vendo estrelas de bandeira brilhando festivas no teto sujo.

Duas ou três gotas vermelhas no lençol.
Alguma coisa tinha se estragado por ali.
Explorei curioso o buraquinho do rabo com a ponta do dedo. Enfiei fundo.
Um gemido sem ai.
Chupei o dedo com jeito de menino experimentando bolo proibido e sentenciei:
- Definitivamente whisky não combina com sangue.
A minha gargalhada demente podia ter sido interminável pela noite, porém meus olhos pararam em algo muito sério: a abundante umidade pegajosa, a água da sede contínua que escorria de sua boceta era o sinal inconfundível da fêmea indefesa ante o assalto sem defesa do gozo. Mais excitante no caso dela. Puxei-a com violência dolorida pelos cabelos e encarei seus raivosos olhos molhados. A dor e a humilhação a iluminavam. Eram a luz da vida para sua alma escura de escrava. O sal para sua insípida alma de mulher.
Abri a calça, ignorei o sangue, enterrei meu pau de uma vez em seu cu e passei a bombear como um alucinado. Ela se agitava como podia, querendo resistir, tentava gritar, mas era inútil.
Agarrei-a novamente pelos cabelos, continuei, aumentei o ritmo das entradas e só parei quando descarreguei a totalidade do condensado leitoso conteúdo de meu saco no mais fundo que consegui de seu corpo.

Eu só queria recuperar a respiração normal, mas a cadela continuava emitindo ruídos raivosos. Puxei-a próxima à saliva de minha boca de desprezo e ameacei:
- Vou tirar, mas se fizer escândalo te faço um corte que você não vai ver cicatrizar, puta tarada. Com o que está tão incomodada, vadia?
Ela era a encarnação do mais puro ódio.
- Era só isso o que queria? Uma mera comida de cu? Por que não disse logo? Eu teria te dado naquele bar vagabundo mesmo, na frente de todo mundo e daquele barman com cara de caipira. Ia ficar mais excitada vendo ele se masturbando do que com você me dando esse sexo tão ordinário. Você não entendeu nada, você não sabe de nada. Você só foi mais uma escolha errada, John Doe.
Ela estava enganada: eu fui um erro maior ainda, pois em poucos homens apliquei um pontapé tão potente. Sua boca virou uma coisa inchada vertendo sangue.
- Seu escroto filho de uma puta! No rosto não, eu pedi. Vá para o inferno!
- Sorry, sweethearth, te enganei mesmo. Definitivamente não sou um cavalheiro disposto a atender aos desejos de uma mulher.
Molhei a ponta do dedo no sangue que escorria de sua boca e com esmero desenhei quatro letras vermelhas em sua testa: “PUTA”. Arrastei-a pelos cabelos até o banheiro, coloquei-a de frente para o espelho.
- Divirta-se com o espetáculo de sua humilhação e decadência. Se der um pio, acabo a murros com o resto dessa tua cara de puta masoquista.

Nas gavetas, na bolsa dela e em todos os lugares que procurei, dinheiro quase só trocado mixuruca de raspa de tacho de fundo de caldeirão de Exército da Salvação em véspera de Natal branco. Mas aquele relógio de ouro que ela deixou dando sopa sobre a penteadeira, sem dúvida, era coisa finíssima.
- Olha, vadia, não que eu seja ladrão, porém o capitalismo, apesar de engrandecer esse glorioso país, reservou uma sorte madrasta a alguns de nós desafortunados nesse vale de lágrimas na Terra. Então sigo aquela filosofia medieval de tirar dos ricos para dar aos pobres. Como estou sem nenhum algum e não conheço, no momento, alguém mais pobre do que eu... E a se acreditar no que disse Jesus, caras como eu acabam sentados ao lado dele no céu assim que morrem. Até que mereço um pagamento pela disneylândia de putaria que te dei, não?
Seu olhar de desprezo nem arranhou minha armadura de desfaçatez.
Tirei o pau para fora e rindo mijei forte em seu rosto, deliciando-me em ver as letras sangrentas vermelhas de sua testa se dissolvendo juntamente com sua expressão de auto suficiência.
Aquela máscara inchada e encharcada de mijo, que há pouco era um lindíssimo rosto semi oriental falou numa agonia quase suplicante:
- Não importam o dinheiro e o relógio. Não vá. Posso aguentar mais do que isso.
Do mais fundo de meu peito busquei o quanto pude de todos os marlboros fumados desde o primeiro e com um ruído nojento enderecei a seu rosto a mais pródiga cuspida encatarrada que consegui.
- Foi o melhor do seu pior que você foi capaz de me conceder nessa noite. Pela saliva de teu desprezo eu te agradeço, John Doe.
A Fender branca de Dick Dale começou a tocar “Misirlou” no último volume dentro de meu cérebro.
Agarrei a garrafa de Cutty Sark e desci as escadas feito um louco.
Nunca mais a vi.

 “Caminho o meu caminho
E nos lugares que passei
As pedras no caminho
São o pranto que chorei” (2)

Só em filmes é que música surge do nada sem se saber de onde.
Outra vez aquele sujeito com voz fanhosa cantando um blues num idioma desconhecido.
Quem poderia ser tão solitário para estar acordado a essa hora escutando rádio?
Noite de lua apagada e chuva de afogar baixinho na enxurrada da sarjeta.
Um vira lata lacrimejando amarelo me olha triste e depois segue ensopado indiferente ao aguaceiro.
Cachorro burro.

O cansaço físico madrugadescendo em sono de exaustão.

Em Rotten Angels toda noite escura acaba em sol brilhante e nem você nem Deus podem fazer nada a respeito.
Simples assim.
Uns dias são ruins outros são piores.
Não lembro de ter sonhado pesadelos nos vapores do álcool.
Acordei estirado no cinza do cimento frio da calçada, molhado e mijado, a garrafa vazia de Cutty Sark firmemente segura na mão e a censura dos olhares moralistas das pessoas de bem que acordam cedo, que passavam me censurando por ainda ter o atrevimento de estar incomodamente vivo no mundo delas.
Me sentia como se tivesse porrado um Chevy 57 vermelho com pneus faixa branca a cento e quarenta quilômetros por hora contra uma árvore perdida num deserto na Rota 66 e cuspido para fora pelo para-brisas.
Imediatamente me lembrei da mulher amarrada no apartamento. Será que a vadia tinha conseguido se soltar?
Well, nem que eu tivesse uma consciência para me obrigar voltaria lá para saber e cela de cadeia era o último lugar que queria tornar a ver por um bom tempo. Definitivamente não estava disposto a protagonizar mais um triunfo soberano da justiça sobre um qualquer derrotado da vida e ouvir o pastor do vilarejo comandando os linchadores e dizendo: “Vamos enforcá-lo rapazes!”. Afinal, sabem todos, os caçadores de bruxas são piores dos que as bruxas.
Empenhei o relógio com o mais cínico dos britânicos sorrisos de Robin Hood.
Na rodoviária, na vitrine de uma loja de discos, um deformado anão brasileiro berrava em espanhol uma irritante música estranha.
Embarquei num aerodinâmico Greyhound e fui para o Norte, para a casa dos meus pais.
Frio do cão nessa época. Dias de tédio revendo o documentário de minha vida, me recuperando com a comida gostosa da mamãe chorando lágrimas de sangue de desgosto, estourando o saco com as aporrinhações de meu pai sobre a lamentável fatalidade de eu ser um irrecuperável bêbado e vagabundo e assistindo na televisão à final do concurso Miss Universe.

Depois de um mês, peguei todo o dinheiro que encontrei na casa e voltei para Rotten Angels. Aluguei outro quarto com aspecto previsivelmente enfermiço e para onde mais poderia ir, senão para Golden Crap?
- Bota um escocês fajuto nas pedras, Jerry Lee!
Felizmente “O Rato Morto” não mudava: mantinha sua hospitaleira atmosfera escura e epidêmica pronta para receber com carinho, álcool e fumaça os brinquedos quebrados da sociedade e todas as espécies de animais da noite de Rotten Angels. Terra de ninguém, nação onde nunca me senti forasteiro.
- Aquela tua amiga mestiça apareceu por aqui.
O buraco do meu cu apertou gelado.
- Ah, sei. E ela perguntou por mim?
- Não: entrou aqui como um fantasma naquele vestido vermelho esquisito - puta tesão ela, hein cara? – deixou isso no balcão, virou as costas e se mandou.
Cartucho de papel pardo enrolado. Não era preciso ser vidente para saber o conteúdo.
Uma magnificamente intocada garrafa de Cutty Sark legítimo!
Palavras escritas no rótulo amarelo com redonda e delicada caligrafia feminina.
“Você foi mais um erro de escolha, mas foi meu erro, de minha escolha. Por isso, te guardarei com carinho como uma coisa minha, algo que se grudou na história de minha vida para sempre escrito nas marcas do meu corpo. Não se sinta mal. Você me concedeu o melhor do teu pior: e pela saliva do teu desprezo eu te agradeço”.
Enfim, na vida, como em desfile de miss, premiação do Oscar e em concurso literário, mais vale ser lembrado como um fracasso marcante do que ser esquecido como um sucesso de conveniência.
De novo a voz anasalada cantando aquele blues em língua estranha.
“Então eu fiz um bem
Dos males que passei“ (2)

Nada de frustrações e recalques entalados na garganta: às vezes se ganha, às vezes se perde.
É, John Doe, um dia, quem sabe, até um perdedor como você poderá ganhar.
Mas enquanto isso é aproveitar a garrafa de Cutty Sark, enquanto durar.
Apesar do que diz o velho provérbio chinês: “A derrota só será uma bebida amarga se concordarmos em tragá-la”.
Meu Deus, que bunda monumental de gostosa tinha aquela Miss Brazil chamada Martha Rocha!
“Não somos mais alguém
O meu nome é ninguém
E o teu nome também
Ninguém “ (1)
THE END
(FAVOR REBOBINAR A FITA)
(1)"Meu nome é ninguém", Luiz Reis, Haroldo Barbosa e Nazareno de Brito
(2)"Poema do adeus", Luiz Antônio


2 comentários:

  1. Gostei de seu blog.. tomei a liberdade de participar dele..bjsss

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ... feliz que de teu deleite...
      ... tks a lot pelo respeitoso carinho...
      ... so good tê-la em Meu Chão...
      ... all kisses...
      ... saudações em S&M...
      A Carne Sorri Na DOR

      Excluir