quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Boca de Veludo

Foto: Peter Heger
(para mcm)
 
tô morta de sono Papaizinho
 
olho pisca pisca que pisca me irrita porque eu já sei que tô com sono e vou dormir daqui a pouquinho acho que é mais uma segunda-feira maluca ou domingo ainda que eu queria que fosse sempre pra sempre madrugada sei lá perco a noção de tempo nesse tempo à noite meio sem pé nem cabeça sozinha aqui sentada no vaso mijando ardendo de toda assada fumando e olhando para o espelho com cara de bunda ui não deu pra segurar aqui não dá pra segurar por que deveria segurar aqui é o lugar pra não segurar mesmo e afinal por que porra a gente tem de segurar quando não dá e ninguém segura mesmo o cheiro do mundo tá aí pra provar daqui a pouco vem aquela luzinha chata de manhã de dia começando que eu acho uma merda enquanto todo mundo acha bonito acho triste aquele dia sem cor definida de porcaria nenhuma a gente fica sem saber se está no céu ou no inferno começar a nascer iluminando bobo bobo o piso do banheiro amanhã eu começo a fingir que sou enganada de novo pelas mentiras velhas da vida
 
o espaço vazio desse quarto contém é preenchido por toda minha nudez que pode ser desconfortável para muitos ou todos ou ninguém mas não me interessa quem não estiver interessado tem a porta que serve para entrar e para sair para quem estiver se sentindo incomodado quero ficar pelada quero porque quero é problema meu e daí não devo satisfação a ninguém só a você Papaizinho
 
porque eu sou a boca de veludo e faz tempo e muito tempo e sou porque sou desde os tempos do  colégio quando os meninos pediam e depois nem precisavam pedir porque que já queria chupar os pintos deles todos e ficavam duros dentro de minha boca e que diziam que era boca de veludo e gozavam a gosma lá deles e deixavam o veludo todo lá da minha língua pegajoso com aquele gosto sem gosto mais sem graça de nada mas eles gemiam gritavam e empurravam minha cabeça para engolir tudo até o final da garganta enquanto gritavam enquanto gozavam e eu descobri que era boca de veludo no engasgo do pinto grande de um menino que empurrou mais forte do que os outros e gozou direto sem que eu não pudesse deixar de engolir tudo tudinho e ele me chamou de boca de veludo e todos os outros meninos que estavam ali de pinto na mão se punhetando riam de mim ajoelhada e chorando meio engasgada mas vi que elas me respeitavam a partir dali porque eu era boca de veludo e só eu era o que as outras meninas que chupavam eles não eram e nunca seriam
 
sei lá às vezes o Senhor me acha chata e pentelha falando dessas coisas que acontecem e que aconteceram há tanto tempo mas eu acho que é importante falar das coisas que aconteceram no passado porque elas foram vividas pela gente e de uma forma ou de outra deixaram marcas na gente do mesmo modo que o Senhor deixa marcas no meu corpo Papaizinho porque afinal a gente é formado pelo lixo do ontem nós somos hoje resultado de tudo o que aconteceu a nós ontem ou anteontem ou no ano passado ou quando a gente era criança sei lá
 
e para vivenciar a decadência da gente em toda a sua glória você tem meu corpo para usar e abusar e pisar mijar e sujar do jeito que quiser porque eu gosto e você sabe que eu gosto Papaizinho que você faz essas coisas todas comigo que a gente não pode nem deve contar para ninguém que faz mas que a gente sabe que todo mundo também faz só que ninguém conta para ninguém porque não fica bem contar esse tipo de intimidade maluca para os outros
 
tapa e pontapé tem sempre junto com cinto chicote cera de vela derretida quente já teve corda corrente algema cigarro apagado no meu peito a marca da queimadura tá aí até hoje e aquele monte de qualquer coisa que o Senhor enfia em todo e qualquer buraco que bem entende de meu corpo Papaizinho
 
e você fica como os olhinhos brilhantes quando eu apareço fazendo biquinho e beicinho falo com jeito de menininha Papaizinho faz uma menina malvada feliz e que você sabe que é para me causar infelicidade em todo lugar de meu corpo que é só assim que eu me sinto e fico feliz e que deixo você feliz como nunca outra nenhuma por mais cadela que eu que tenha se feito te deixou tão satisfeito do jeito que você goza e esporra e me lambuza e me meleca e me deixa esporrada inteira
 
estou indo naquele terapeuta lá que você me mandou para ver se eu me aquietava e ele me disse que eu devo me acalmar em relação a essas coisas que nós fazemos juntos quando estamos juntos que eu me submeto porque preciso compensar minha insegurança de vida nas mãos de alguém malvado como o Senhor e que eu estou querendo me agredir me desvalorizando porque acho que a sociedade não me valoriza e que eu estou querendo ignorar a minha fragilidade me espelhando na sua força mas afinal de contas o que é que os médicos sabem sobre a gente
 
o Senhor é todo inteligente bem informado tem fama de torturador competente e coisa e lousa e eu sou burra porque sou só sei ser o que sou e gosto de ser cadela para ser chutada desprezada usada como depósito de porra e de cuspe e de porrada e de palavrões dizendo que eu sou puta ordinária vadia cadela e mais um monte de coisas que o Senhor diz para mim aos gritos Papaizinho o que qualquer uma outra ia se sentir mal e enojada mas eu me sinto feliz feliz feliz como nunca ninguém me fez ser feliz desse jeito na minha vida
 
e eu me arrasto da cama devagarinho me arrastando de quatro pelo chão que está sempre empoeirado aqui no meu apartamento as mãos os joelhos as solas dos pés tudo sujo preto de dar nojo e o Senhor pisa na minha nuca apertando meu rosto contra o assoalho me obrigando a lamber o chão sujo e engraçado sujeira dá nojo mas não tem um gosto assim que seja até que muito ruim é meio um gosto de nada e a sua risada perversa que pega na minha alma bem lá no fundo como uma coisa doente que dói e o Senhor naquele dia trouxe aqueles três homens para ficar olhando tudo isso e mais tudo aquilo que o Senhor faz comigo e eu estava envergonhada de eles me verem pelada aberta e sendo usada daquele jeito e o Senhor ainda por cima mandou que eles enfiassem dedos lá dentro no fundo de meus buracos e eles desfrutando cada pedaço quente e melado de pele e carne de minha boceta que eu nunca gostei dessa palavra para chamar a minha xoxota que eu sempre chamei de xoxota mas que boceta eu aprendi com o Senhor que é mais gostosa de falar com jeito de mulher desavergonhada de puta de calçada dizer de boca cheia como o Senhor sempre diz e de meu cu e eu tinha vontade de chorar e chorei mas depois vi que estava chorando de orgulhosa quando vi o Senhor sorrindo perverso de orgulho por poder me exibir para eles daquele jeito humilhante e eu chorava e ria ao mesmo tempo o Senhor lembra Papaizinho
 
que nem quando daquelas vezes em que o Senhor me faz comer resto de comida fria na tijelinha de cachorro no chão ajoelhada com tudo meu lá atrás arreganhado à mostra como cadela cachorra mesmo dessas de rua que comem da sarjeta sobra de lata de lixo que elas derrubam para comer
 
o que eles não sabem é que o Senhor é muito carinhoso comigo mesmo quando me chama de puta princesinha imunda é como eu gosto mais que o Senhor me chame mas nunca vou lhe dizer senão o Senhor descobre que eu gosto e nunca mais vai me chamar de puta princesinha imunda eu sou assim mesmo tão complicada e tão simples ao mesmo tempo descubro o seu carinho quando sou ferida pelo Senhor um troço meio parecido com o que minha mãe dizia para mim lá no interior quando eu era menininha ainda que as mulheres são as imperatrizes da maldição não sei de onde ela tirou essa frase porque ela era burra pra chuchu mas não consegui esquecer nunca mais essa coisa que as mulheres são as rainhas da maldição acho que tinha alguma coisa a ver com bíblia e livros de vida de santos que ela lia lia e lia e só lia isso o tempo todo em que viveu até que morreu de câncer coitadinha
 
deus deus deus pensar em coisas de deus ainda mais nessas horas em que o Senhor faz todas essas coisas comigo são coisas do diabo todo mundo diz mas deus não criou a gente com esse corpo e com esse pensamento então não são coisas de deus também essas coisas de diabo que nós fazemos juntos e que é melhor a gente não contar para ninguém que faz e a mulher é só costela do homem e o Senhor deve ter ódio da costela que deus tirou do homem porque sempre escolhe me dar pontapés nas costelas que ficam doloridas e quando eu estou sózinha deitada no chão gelado velando pelo seu sono enquanto o Senhor ronca satisfeito de meu corpo e dos buracos dele e do whisky que tanto gosta eu fico ali quietinha sentindo a dor e sendo grata pelo Senhor poder ter a mim para descarregar o ódio dos homens pela costela roubada por deus mas no fundo eu fico contente mesmo por saber que mesmo desprezada eu sou um pedaço de seu corpo de homem porque  mesmo sendo por um roubo de um deus eu sou um pedaço do Senhor Papaizinho e o Senhor pode fazer o que quiser com o meu corpo porque no fundo afinal ele é também o seu corpo ou pelo menos um pedacinho dele
 
o Senhor diz que sempre tem consequências de todos os nossos atos de tudo o que fazemos o Senhor como sempre deve ter razão como tem em tudo o que diz mas eu não me importo venha consequência ou não venha
 
eu tenho a pele muito branca sempre tive desde criança não consigo ficar bronzeada nem com muito tempo de sol na praia então fico vermelha muito fácil quando o Senhor me bate de mão ou de chicote ou de vara ou de cinto ou de pau que nem naquela vez em que estava zangado com o mundo e até arrancou cabelo demais quando me arrastou e chutou pelo chão do apartamento como uma bola de papel velho amassado cabelo eu tenho muito sempre tive sempre bonito todo mundo sempre disse e eu pensei que o Senhor ia ficar porque era feriado prolongado mas o Senhor foi embora e fez tudo comigo mas não fez nada por mim Papaizinho mas fez o que quis para o Senhor e é isso que importa para mim pode ser para os outros o paraíso dos bobos mas eu sou boba sempre fui
 
mas eu sei que o Senhor gosta de mim tudo o que pode gostar Papaizinho e sei que não pode mostrar isso para ninguém muito menos para mim de quem o Senhor tem desprezo e nunca vai ser todo meu que tem sua mulher e filhos e outras mulheres na jogada mas eu sei que sou e quero ser toda sua e só isso importa para mim
 
eu fui feita mulher para qualquer homem e cadela saco de pancada só para o Senhor Papaizinho o que fica fora disso é quando o Senhor não está ou não quer estar mas me deixa ir com os outros mas eu não vou inteira não vou só na chupadinha que eu gosto e os homens gostam também eu sei porque gozam e ficam satisfeitos logo e não se comprometem com muita coisa e aí eu sou para eles e nessa hora só nessa hora eu sou para mim e só para mim boca de veludo
 
eu gosto de fazer esses jogos de sexo e de sacanagem e de putaria que o Senhor gosta de fazer comigo eu aprendi muito e fiquei cada dia melhor em todos eles o Senhor mesmo disse meu corpo ficou mais elástico mais aberto mais resistente à dor cada minuto parecendo um monte de anos que demoram a passar mas é gostoso que só gozar porque no paraíso dos bobos o que menos interessa é o tempo e quanto mais tempo o tempo dura mais gostoso é mesmo porque os bobos são bobos mas sabem que tudo pode estar morto no instante seguinte
 
importam as guerras lutadas não as ganhas ou perdidas e eu só quero mesmo é me render sempre quantas vezes forem necessárias várias todas que sejam no mesmo dia não me incomodo já aprendi a não perguntar quando Senhor volta quando o Senhor vem Papaizinho desde que antes de ir embora fique em cima de mim pesado bruto me machucando e goze e goze tudo e quanto quiser do jeito que bem entender dentro ou fora de mim nada a dizer vá e volte quando quiser voltar eu espero que seja agora no próximo momento ou quando quiser eu quero e espero sempre o quarto fica com um cheiro meio enjoativo de mim e do Senhor gozados e eu fecho porta janela tudo para guardar esse cheiro o quanto puder mas ele acaba indo embora e é aí sem é que é difícil de aguentar o que fica mais são as manchas de sua porra de minha porra os riscos de sangue as marcas de suor tudo o que eu não limpo e que o Senhor vem depois de um tempo e diz que está fedendo se soubesse quanto tempo fico sem tomar banho só para conservar esse cheiro grudado na minha pele para proteger um tempo perdido mas não esquecido o sangue vai embora mas a ferida permanece um tempo e a cicatriz quem sabe talvez para sempre
 
vive encrencada falhando preciso mandar consertar essa bosta dessa descarga esse mijo fedendo quente vai ficar aí mesmo nojento com a bituca boiando nojenta com a gosma de papel higiênico nojento e tampão ensanguentado nojento nesse amarelado gorduroso vermelho de sangue nojento e mijo que eu não estou com saco de ir até o tanque na área de serviço e encher balde d’água para jogar
 
tô morta de sono Papaizinho

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