sábado, 5 de janeiro de 2013

Dívida, Vindita, Vida

Foto: Matthew Cooke

“Senta sereno na margem do rio e espera
passar boiando o corpo do teu inimigo”
(Provérbio chinês)

História de livro do século 16?
Que nada.
Acontece sempre, todo o tempo.
Acontece aqui e agora.
O pai era um homem adorável.
Em termos de negócios, uma nulidade, um sonhador de uma incompetência que beirava à ingenuidade.
Desconfiava que as coisas não iam bem.
Lia o desespero no sorriso forçado do velho.
Certeza do desastre só teve quando o senhor Luck telefonou.
“Avisei a seu pai que era uma barca furada. Mas você sabe como ele é, sempre convencido de que finalmente encontrou o grande negócio de sua vida. Insistiu porque insistiu, nem se incomodou com o nível dos juros e ofereceu o palacete como garantia. A dívida venceu no mês passado. Ele implorou por um adiamento, porém também tenho meus negócios e obrigações. Impossível. Só você pode salvar seu pai da ruína total. Se eu executar a dívida, em uma semana você e seu pai estarão morando no meio da rua”.
Antonia nem se abalou com a proposta falsamente velada de troca de sexo pela dívida. O senhor Luck sempre a olhara de forma especialmente dúbia desde quando pusera os olhos nela mal saída da adolescência. Só temeu pelo tom enigmático e sinistro da proposta.
“Quero usar um pedaço de carne de seu corpo por 12 horas seguidas e da maneira que bem entender, sem limitações. Espero que me ligue em três dias concordando. Senão executo a dívida”.
Perda de tempo pensar sobre a indignidade da oferta. O pai nada lhe contara. A saúde frágil do velho não resistiria a encarar a face debochada da bancarrota, da miséria. Sabia que não tinha saída, além de submeter-se aos desejos do senhor Luck. Apenas por uma questão de inútil dignidade burocrática protelou a resposta para o terceiro dia.
“Concordo com os seus termos”.
“Quero fazer o que bem entender com essa sua bunda apetitosa”.
“Preciso de dez dias para me preparar”.
“No sábado de Aleluia então. Quero você em minha casa, às nove da noite. Minha mulher estará no interior, na casa da mãe e vou buscá-la no dia seguinte. Você leva o título da dívida quitado e ainda te dou um ovinho de Páscoa daqueles bem vagabundinhos, de pobre, que vou mandar comprar na padaria da esquina.”
Gargalhada debochada.
A princípio um tanto incômodo e constrangedor, o enema improvisado com a mangueira da ducha acabou se transformando numa inédita experiência estranhamente agradável.
Sexo anal não era sua variante predileta, mas estava longe de mostrar-se como uma novidade em sua nem tão intensa vida sexual.
“Doze horas daquilo, meu Deus”.
Antonia meditava sobre tudo isso enquanto sob o chuveiro, com cuidado estudado, massageava o ânus com o dedo lambuzado de sabonete.
Quase como um levíssimo choque elétrico.
“Já há sujeira demais nessa história. Não quero sujá-la mais”, pensou amargamente perfumosa enquanto deixava a água quente na medida escorrer-lhe pelo corpo.
Comentou apenas com o primo (médico recém-formado trabalhando num posto de saúde pública no centro da cidade voltado quase que exclusivamente ao atendimento de mendigos e moradores de rua), confidente de todas as horas e um apaixonado por ela desde a infância.
Quanto tinham brincado com o sexo com a inocência das crianças.
Agora aquilo: sexo também só que cru e imundo.
O plano do primo era arriscado e nojento, porém suficientemente perverso para refrescar sua sede de vingança.
Dedo no botão da campainha. Nove da noite em ponto. Não tinha razão para adiar. Sofrimento o destino manda sempre na hora exata.
Senhor Luck abre a porta com um maldoso sorriso escancarado. Completamente nu, com uma inacreditável ereção ameaçadora.
“Pelada! Já, ordinária!”
A humilhação tentou desacelerar seus movimentos, mas a bofetada estalada em sua face apressou o desnudamento vexatório de seu corpo. “Tenho de aguentar. Esse porco não vai ter nenhuma lágrima minha”, pensou Antonia.
“Abra a boca! Braços para trás!”
Compreendeu que seu rebaixamento iria muito além da penetração anal quando se viu amordaçada, pulsos presos às costas.
“Cadelas vagabundas devem ser imobilizadas para não resistirem e não quero que os vizinhos ouçam seus ganidos de prostituta barata”.
O tapa agora derrubou-a no chão.
Manuseada como um fardo de carne. A pele dos joelhos ralada, queimando na aspereza do carpete. O rosto virado de lado, comprimido contra o chão.
Arreganhada. Um desengonçado brinquedo aberto aos escabrosos apetites dele.
A sensação no orifício de seu ânus de algo quase líquido, gordurosamente gosmento e gelado como a lambida da língua de um morto.
“Graças a Deus, ele vai usar um lubrificante”.
A dolorosa introdução de um só golpe, rápida, violenta, fez com que se sentisse aberta ao meio. Só podia grunhir e ensopar de saliva o tecido da mordaça. “Esse velho não pode ter um pau desse tamanho”.
As tiras de couro apertaram-se firmes e entraram fundo na carne de seu ventre.
Antonia preferia nem imaginar o tamanho do consolo que o senhor Luck enfiara em seu corpo e que era mantido atado a seu interior sem possibilidade de alívio.
“Não faça doce. Dá prá ver que esse cu de puta escrota já foi frequentado, e muito. Só que nunca desse jeito”.
A gargalhada debochada era insuportável.
Indefesa.
Uma penetração gigantesca.
Qual espécie de tara ou violência ainda podia ser imaginada por aquela mente doentia para humilhá-la?
Devia ter desconfiado do que se escondia por trás daquelas frases aparentemente tão explícitas: “Quero usar um pedaço de carne de seu corpo por 12 horas seguidas e da maneira que bem entender, sem limitações. Quero fazer o que bem entender com essa sua bunda apetitosa”.
A primeira vergastada veio explicativa. A segunda, apesar da dor mais aguda era redundante.
Estava sendo flagelada de forma selvagem.
Com o canto dos olhos Antonia conseguia ver o senhor Luck, sorriso cruel, a ereção impassível, tremendo de prazer a cada vez que descia o couro do cinto nas carnes generosas de suas nádegas apetitosas.
Jamais apanhara de ninguém.
Era inacreditável que estivesse vivendo experiência tão degradante.
“Geme, puta desprezível, geme mais. Você gosta, no fundo você gosta. Todas gostam. Puta! Você não passa de uma puta suja. Toda mulher no fundo é uma grande puta. Geme para pedir mais. Mais. Mais. Mais!”
As lágrimas teimavam em escorrer quentes de seus olhos, por mais que resistisse.
A respiração do senhor Luck era forte e ruidosa como o som de um animal pronto a atacar só pelo prazer de sentir o gosto do sangue da presa.
Apesar da mordaça, Antonia conseguiu emitir um forte grunhido, quase um grito.
Jamais sentira dor tão intensa.
“Quer saber o que é? Quer saber o que está te causando tamanha dor? Veja puta, veja”.
Monstruoso.
Só uma mente perturbada poderia ter premeditado e preparado aquilo.
Ajoelhado, o senhor Luck exibia aos olhos de Antonia uma raquete de pingue pongue ensanguentada: na superfície ainda podiam ser vistas as pontas metálicas brilhantes da dezena de pequenos pregos que ele havia pregado na madeira.
Só podia ser obra de alguém desequilibrado. Antonia começou a temer por sua vida.
Não podia ver, mas sua bunda agora era uma posta de carne lacrimosamente vermelha, sangrenta.
”Não chore, minha querida putinha. Hoje deve ser um dia de alegria. Afinal, você está aqui para se aproveitar da minha generosidade que vai conceder a piedade de não afundar você e seu pai na mais negra miséria. Precisamos comemorar, precisamos comemorar”.
O senhor Luck apanhou uma pequena caixa de papelão e mostrou o conteúdo a Antonia.
“Não são bonitinhas?”
Eram pequenas velas dessas utilizadas em aniversários.
“Sua bunda gostosa vai ser o bolo para a comemoração de nosso acordo”.
“Não é possível, esse maluco vai querer me queimar”, pensou Antonia.
No entanto, a primeira picada aguda que sentiu nada tinha a ver com fogo.
O senhor Luck havia adaptado agulhas a parte inferior das velas e as estava espetando com cuidadoso sadismo nas carnes da bunda de Antonia.
“Cada uma representa dez por cento da dívida que seu pai tem comigo”.
Com apavorada aflição, ela ia contando mentalmente: sete, oito, nove, dez.
Onze, doze, treze.
“As três a mais são pelos juros que ele não vai poder me pagar”.
A dor agora vinha em bloco, tão feroz que dava uma sensação quase anestesiante. Era como se a parte inferior de seu corpo não mais existisse.
“Parabéns a você, nessa data...”
O senhor Luck cantava mórbido enquanto acendia uma a uma as velas, com um carinho de tara infantil.
Pela primeira vez tentou com todas as suas forças implorar por piedade.
Nem todo o ódio do mundo poderia justificar uma demência daquelas.
Experimentou uma intensa náusea tentando escalar as profundezas do estômago em direção à sua boca, quando o cheiro do álcool misturou-se ao seu pavor.
Tentou se levantar.
O pânico ordenava que tentasse fugir dali de qualquer maneira.
O pé firme em suas costas impediu qualquer tentativa de reação.
A expressão do rosto dele agora era de uma dureza de estátua.
O cinto de couro amedrontador na mão direta. Na esquerda, ameaçador, o frasco com álcool sendo sádica e lentamente virado.
As velas acesas.
Poucas gotas foram suficientes para que em segundos a bunda de Antonia estivesse em chamas.
Impossível escapar.
Dor inacreditável.
O pé em suas costas imobilizando-a.
Contorcia-se.
Como enlouquecido, o senhor Luck passou a distribuir as mais violentas vergastadas em sua bunda.
Aos poucos as chamas iam sendo eliminadas. Pela dor das chibatadas.
Sentia que ia desmaiar.
A dor das queimaduras era intensa.
O senhor Luck saiu por uns instantes.
Ouviu barulho de água.
Ele voltou com uma toalha molhada.
“Não se preocupe, é coisa superficial. Coisa que qualquer pomadinha cura em dias. Em pouco tempo terá sua bunda suja de cadela em ordem para dar para esses homens imundos para quem se vende. Quer se refrescar um pouco?”
Cuidadosamente ele colocou a toalha sobre seu traseiro, massageando forte. O sofrimento era incrível. Depois, com dedicação próxima ao carinho ele enrolou a toalha e começou a torcê-la, fazendo com que gotas frescas de alívio penetrassem em suas feridas.
Difícil dizer quanto tempo durou.
A vermelhidão em sua face demonstrava que o esforço que ele fazia ao torcer a toalha não era falso.
“Será que acabou? Acho que ele agora está satisfeito”, Antonia desejou esperançosa.
A pancada surda chegou surpreendente.
Ele estava surrando-a com a tolha enrolada.
Agora não era apenas sua bunda. Suas costas também eram espancadas sem piedade.
“Por que? Por que você teve de se vender tão caro para mim? Por que? Você podia ter tido tudo de mim sem se vender, desde quando me conheceu. Esse orgulho besta de gente pobre. Eu teria te dado tudo de graça, de graça”.
Antonia conseguiu tirar forças de algum ponto em seu interior para, mesmo com a mordaça, sorrir com desprezo para o senhor Luck.
A cuspida em seu rosto foi uma reação mais do que eloquente.
Ele saiu em direção à cozinha.
As expectativas não se concretizariam.
Seu sofrimento ainda não terminara.
Não, ele ainda não estava satisfeito.
Voltou com uma garrafa de cerveja.
Bebia pelo gargalo.
“Geladinha. Uma delícia. Quer um pouquinho para passar o calor da comemoração?”
Vigorosamente recolocou Antonia em sua vulnerável posição, desatou as tiras de couro e com determinação arrancou o dildo de seu ânus. Ruído seco.
Agora era o frio. Muito frio.
Insensível à sua dor e a todo o sofrimento que já lhe infligira, o senhor Luck vigorosamente enfiava a garrafa pelo seu ânus. Antonia sentia o gelado do líquido inundar seu interior.
Garrafa retirada com violência.
Não consegue evitar. O líquido esguicha para fora de seu ânus com um ruído nojento, desagradável.
A gargalhada de deboche do senhor Luck é ainda mais infame.
Não importa mais o que ele possa fazer.
Ela consegue perceber alguma claridade através das cortinas.
O dia começa a nascer.
Quanto tempo ainda?
Será que ele nunca se dá por satisfeito?
Não.
Ela nunca acreditou que fosse possível suportar isso. Mas agora percebia claramente que ele enfiava, um após outro os dedos em seu ânus. Entravam, e se acomodavam.
Pareciam nunca acabar.
Agora era sua mão de homem, grande, ossuda, inteira dentro dela, mexendo-se com desenvoltura em seu interior.
“Você vai saber agora, sua vadia, o que quer dizer tomar um pé na bunda”.
A voz está pastosa, as cervejas seguidas parecem começar a fazer efeito.
Já não se preocupa em tentar gemer. Apenas deixar o tempo passar.
Como ele conseguiu enfiar boa parte do pé dentro de sua bunda? Parece passear entre suas entranhas.
Como está conseguindo suportar isso sem incômodo maior.
“Ele me abriu inteira. Estou arrombada para sempre”.
Os movimentos dele já não são tão exatos.
Bêbado.
Acendendo mais um cigarro.
“Não meu Deus, por favor, não. Esse sorriso de novo”.
Pernas menos firmes, o senhor Luck levanta-se e com esmero embriagado dedica-se por algum tempo a torcer, retorcer, entortar e endireitar um clipe de metal.
Duas hastes, uma maior outra menor, em ângulo reto.
A chama do isqueiro passeia pelo metal, lambe-o até deixá-lo em brasa.
Antonia não pode ver. Apenas guincha agudo quando sente o calor queimar sua carne.
“Agora você é uma verdadeira vaca. Marcada com a minha marca, com o L de Luck”.
”Já deve passar das oito. Isso tem de acabar. Mas como vai ser, meu Deus?”
O senhor Luck não consegue esconder o cansaço.
Sua ereção, porém, permanece inalterada. Às vezes parece ter aumentado.
Aparentemente está mais calmo.
A bebida talvez tenha aplacado sua fúria.
Quase capaz de transmitir carinho, como uma criança ele beija as nádegas de Antonia. Enfia a língua demoradamente em seu ânus. Esfrega o rosto naquelas carnes tão machucadas.
Parece verdadeiramente emocionado quando resmunga meio choroso.
“Por que você teve de se vender tão caro para mim? Você podia ter tido tudo de mim sem se vender”.
“Será que ele vai me soltar e me deixar ir embora?”
“E agora, il grande finale!
De cabeça para baixo, pelo vão das pernas, Antonia viu que o senhor Luck começava a desembrulhar um preservativo.
Tentou se soltar esperneou, até que ele entendeu que ela queria que ele tirasse a mordaça.
“Não, camisinha não! Se eu tenho de passar por isso, que seja inteiro, total. Amaciou a carne então tem de comer, seu velho devasso. Se vai enrabar meu cu, quero ter muita porra esguichando grossa lá dentro dele”.
Os olhos do senhor Luck se incendiaram lascivos e a ela não foi concedido nem o instante para um gemido: foi invadida com ferocidade. O senhor Luck entre que grunhia e resfolegava algumas vezes.
Arrombada ao limite do esgarçamento de suas carnes, “Como um velho desses consegue ter um pau tão comprido e grosso, meu Deus?” Antonia sentiu seu interior ficar inundado, quente e pegajoso.
Depois, mais algumas respiradas ofegantes dele, o esvaziamento repentino pela brusca retirada do falo, enquanto sem encontrar qualquer resistência sentia o líquido gosmento sair de dentro dela como se apenas vomitasse leitosa pelo rabo.
O esfíncter dilatado num “O” de espanto, prazer e dor babava branco como uma boca de palhaço triste. Teve seu vômito de esperma calado com violência e ardor.
“Leve enfiado no cu o título quitado da dívida de seu pai. Foi para isso que você se sujeitou a se vender e é só o que você leva daqui com todo meu desprezo e nojo”.
Depois foram pontapés e tapas.
Jogada nua no hall do elevador, vestido atirado na cara, lágrimas salgadas de revolta e dor sendo engolidas pela boca seca de raiva, o recibo da dívida do pai dolorosamente introduzido em seu ânus melado e sangrante. A porta batida com estrondo de desprezo.
Começou a vestir-se.
A porta abre-se debochada.
“Ia esquecendo: aqui está o seu ovinho de chocolate de pobre. Boa Páscoa para você, sua coelha cadela e para o fracassado de seu pai”.
Porta fechada com novo estrondo.
Agora final.
“Mas esse velho é totalmente louco, um tarado, um pervertido, um desequilibrado! O que você foi obrigada a passar nas mãos dele!”
O primo não conseguia controlar a revolta, enquanto cuidava de seus ferimentos.
Injeção? Depois de tudo?
“Sinto, prima, mas não dá para aplicar no braço. E não se esqueça dos comprimidos: de oito em oito horas, por dois dias”.
Por uma semana, ainda teve dores fortes. Sentia-se irremediavelmente arrombada. Temia até ter de ocupar o banheiro (mas, estranho passou a sentir um certo prazer, uma espécie de formigamento desconhecidamente delicioso nesse prosaico ato diário de necessidade).
Logo notou que tudo voltava ao normal. Apenas o L gravado a fogo em sua carne persistia. Mas com o tempo iria embora, o primo garantira.
O pai não engolira muito bem a história de que ela havia conseguido um empréstimo vantajoso para quitar a dívida, mas fingia acreditar.
Quatro dias depois de seu inferno o telefone tocou.
Era o senhor Luck.
“Sua puta perebenta, você me transmitiu gonorreia por esse cu sujo e o pior é que eu passei para a minha mulher!”
O pai tristemente estranhou a gargalhada nervosamente histérica da filha.
“Como eu tinha lhe garantido, prima: o negão é um mendigo cachaceiro, bebe como um gambá, tem uma gonorreia fodida, mas AIDS não tem. O teste definitivamente era negativo. Dizem que foi um jogador de futebol razoavelmente famoso que se perdeu na bebida. Chamam ele de Lance Bogô. Volta e meia ele retorna ao posto de saúde para ver se encontra de novo aquela enfermeira gostosa que insistiu em dar o cu para ele naquela noite”.
Antonia não consegue evitar de acompanhar o primo na gargalhada.
“Com essa sujeira toda uma coisa eu aprendi primo: que o sofrimento é o mais refinado tempero para realçar o inigualável e delicioso sabor da vingança”.
“Com a medicação que lhe dei, esse gostoso rabo, que devo ter sido o primeiro a experimentar quando éramos crianças, está curado, totalmente livre da gonorreia. Por falar nisso, prima, ainda tenho saudades de nosso tempo de crianças e estou a fim de dar uma passeadinha nas carnes desse cu agora limpinho”.
“Sinto primo, sou muito grata a ti, mas tenho planos melhores para meu rabinho tão maltratado”.
Apesar do êxito em sua vingança, Antonia sorri triste, como se algo lhe faltasse.
A velhice e a doença juntaram-se à aliada definitiva, a morte.
O pai de Antonia não durou mais do que seis meses. Do leito de moribundo desconfiava, não entendia bem. Mas teve um velório sereno, embora solitário, no salão do único bem dos tempos de riqueza que conseguiu preservar: o palacete da família.
O senhor Luck tornou-se bem menos prepotente. Tem menos dinheiro e poder também, especialmente depois que a esposa incondicionalmente apoiada pelos filhos, conseguiu com a história da gonorreia adquirida do marido arrancar-lhe parte substanciosa dos bens no processo litigioso de divórcio.
Com os conhecimentos da faculdade de Economia, Antonia hipotecou o imóvel, fez alguns investimentos rentáveis e com algumas especulações de sorte conseguiu em pouco mais de um ano amealhar uma fortuna muito confortável.
Tão confortável quanto o banco traseiro de couro legítimo (tinha começado a adorar couro) de seu carro de luxo.
“Escuta Bogô, você nunca pensou em gravar a fogo um B na minha bunda ao lado do L, enquanto transamos? Depois eu faço uma tatuagem para deixar permanente e mostrar para todo mundo que meu cu é de LB: propriedade de Lance Bogô!”
O motorista não entendeu muito bem a malícia maldosa da pergunta, mas algo lhe dizia que o sorriso de perversidade de Antonia tornava a proposta mais do que justificável.

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