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Foto: Matthew Cooke |
“Senta
sereno na margem do rio e espera
passar
boiando o corpo do teu inimigo”
(Provérbio chinês)
História de livro do século 16?
Que nada.
Acontece sempre, todo o tempo.
Acontece aqui e agora.
O pai era um homem adorável.
Em termos de negócios, uma nulidade,
um sonhador de uma incompetência que beirava à ingenuidade.
Desconfiava que as coisas não iam bem.
Lia o desespero no sorriso forçado do
velho.
Certeza do desastre só teve quando o
senhor Luck telefonou.
“Avisei a seu pai que era uma barca
furada. Mas você sabe como ele é, sempre convencido de que finalmente encontrou
o grande negócio de sua vida. Insistiu porque insistiu, nem se incomodou com o
nível dos juros e ofereceu o palacete como garantia. A dívida venceu no mês
passado. Ele implorou por um adiamento, porém também tenho meus negócios e
obrigações. Impossível. Só você pode salvar seu pai da ruína total. Se eu
executar a dívida, em uma semana você e seu pai estarão morando no meio da
rua”.
Antonia nem se abalou com a proposta
falsamente velada de troca de sexo pela dívida. O senhor Luck sempre a olhara
de forma especialmente dúbia desde quando pusera os olhos nela mal saída da
adolescência. Só temeu pelo tom enigmático e sinistro da proposta.
“Quero usar um pedaço de carne de seu
corpo por 12 horas seguidas e da maneira que bem entender, sem limitações.
Espero que me ligue em três dias concordando. Senão executo a dívida”.
Perda de tempo pensar sobre a
indignidade da oferta. O pai nada lhe contara. A saúde frágil do velho não
resistiria a encarar a face debochada da bancarrota, da miséria. Sabia que não
tinha saída, além de submeter-se aos desejos do senhor Luck. Apenas por uma
questão de inútil dignidade burocrática protelou a resposta para o terceiro dia.
“Concordo com os seus termos”.
“Quero fazer o que bem entender com
essa sua bunda apetitosa”.
“Preciso de dez dias para me
preparar”.
“No sábado de Aleluia então. Quero
você em minha casa, às nove da noite. Minha mulher estará no interior, na casa
da mãe e vou buscá-la no dia seguinte. Você leva o título da dívida quitado e
ainda te dou um ovinho de Páscoa daqueles bem vagabundinhos, de pobre, que vou
mandar comprar na padaria da esquina.”
Gargalhada debochada.
A
princípio um tanto incômodo e constrangedor, o enema improvisado com a
mangueira da ducha acabou se transformando numa inédita experiência
estranhamente agradável.
Sexo
anal não era sua variante predileta, mas estava longe de mostrar-se como uma
novidade em sua nem tão intensa vida sexual.
“Doze
horas daquilo, meu Deus”.
Antonia meditava sobre tudo isso
enquanto sob o chuveiro, com cuidado estudado, massageava o ânus com o dedo
lambuzado de sabonete.
Quase como um levíssimo choque
elétrico.
“Já há sujeira demais nessa história.
Não quero sujá-la mais”, pensou amargamente perfumosa enquanto deixava a água
quente na medida escorrer-lhe pelo corpo.
Comentou apenas com o primo (médico
recém-formado trabalhando num posto de saúde pública no centro da cidade
voltado quase que exclusivamente ao atendimento de mendigos e moradores de
rua), confidente de todas as horas e um apaixonado por ela desde a infância.
Quanto tinham brincado com o sexo com
a inocência das crianças.
Agora aquilo: sexo também só que cru e
imundo.
O plano do primo era arriscado e nojento,
porém suficientemente perverso para refrescar sua sede de vingança.
Dedo no botão da campainha. Nove da
noite em ponto. Não tinha razão para adiar. Sofrimento o destino manda sempre
na hora exata.
Senhor Luck abre a porta com um
maldoso sorriso escancarado. Completamente nu, com uma inacreditável ereção
ameaçadora.
“Pelada! Já, ordinária!”
A humilhação tentou desacelerar seus
movimentos, mas a bofetada estalada em sua face apressou o desnudamento vexatório
de seu corpo. “Tenho de aguentar. Esse porco não vai ter nenhuma lágrima
minha”, pensou Antonia.
“Abra a boca! Braços para trás!”
Compreendeu que seu rebaixamento iria
muito além da penetração anal quando se viu amordaçada, pulsos presos às
costas.
“Cadelas vagabundas devem ser
imobilizadas para não resistirem e não quero que os vizinhos ouçam seus ganidos
de prostituta barata”.
O tapa agora derrubou-a no chão.
Manuseada como um fardo de carne. A
pele dos joelhos ralada, queimando na aspereza do carpete. O rosto virado de
lado, comprimido contra o chão.
Arreganhada. Um desengonçado brinquedo
aberto aos escabrosos apetites dele.
A sensação no orifício de seu ânus de
algo quase líquido, gordurosamente gosmento e gelado como a lambida da língua
de um morto.
“Graças a Deus, ele vai usar um
lubrificante”.
A dolorosa introdução de um só golpe,
rápida, violenta, fez com que se sentisse aberta ao meio. Só podia grunhir e
ensopar de saliva o tecido da mordaça. “Esse velho não pode ter um pau desse
tamanho”.
As tiras de couro apertaram-se firmes
e entraram fundo na carne de seu ventre.
Antonia preferia nem imaginar o
tamanho do consolo que o senhor Luck enfiara em seu corpo e que era mantido
atado a seu interior sem possibilidade de alívio.
“Não faça doce. Dá prá ver que esse cu
de puta escrota já foi frequentado, e muito. Só que nunca desse jeito”.
A gargalhada debochada era
insuportável.
Indefesa.
Uma penetração gigantesca.
Qual espécie de tara ou violência
ainda podia ser imaginada por aquela mente doentia para humilhá-la?
Devia ter desconfiado do que se
escondia por trás daquelas frases aparentemente tão explícitas: “Quero usar um
pedaço de carne de seu corpo por 12 horas seguidas e da maneira que bem
entender, sem limitações. Quero fazer o que bem entender com essa sua bunda
apetitosa”.
A primeira vergastada veio
explicativa. A segunda, apesar da dor mais aguda era redundante.
Estava sendo flagelada de forma
selvagem.
Com o canto dos olhos Antonia
conseguia ver o senhor Luck, sorriso cruel, a ereção impassível, tremendo de
prazer a cada vez que descia o couro do cinto nas carnes generosas de suas
nádegas apetitosas.
Jamais apanhara de ninguém.
Era inacreditável que estivesse
vivendo experiência tão degradante.
“Geme, puta desprezível, geme mais.
Você gosta, no fundo você gosta. Todas gostam. Puta! Você não passa de uma puta
suja. Toda mulher no fundo é uma grande puta. Geme para pedir mais. Mais. Mais.
Mais!”
As lágrimas teimavam em escorrer
quentes de seus olhos, por mais que resistisse.
A respiração do senhor Luck era forte
e ruidosa como o som de um animal pronto a atacar só pelo prazer de sentir o
gosto do sangue da presa.
Apesar da mordaça, Antonia conseguiu
emitir um forte grunhido, quase um grito.
Jamais sentira dor tão intensa.
“Quer saber o que é? Quer saber o que
está te causando tamanha dor? Veja puta, veja”.
Monstruoso.
Só uma mente perturbada poderia ter
premeditado e preparado aquilo.
Ajoelhado, o senhor Luck exibia aos
olhos de Antonia uma raquete de pingue pongue ensanguentada: na superfície
ainda podiam ser vistas as pontas metálicas brilhantes da dezena de pequenos
pregos que ele havia pregado na madeira.
Só podia ser obra de alguém
desequilibrado. Antonia começou a temer por sua vida.
Não podia ver, mas sua bunda agora era
uma posta de carne lacrimosamente vermelha, sangrenta.
”Não chore, minha querida putinha.
Hoje deve ser um dia de alegria. Afinal, você está aqui para se aproveitar da
minha generosidade que vai conceder a piedade de não afundar você e seu pai na
mais negra miséria. Precisamos comemorar, precisamos comemorar”.
O senhor Luck apanhou uma pequena
caixa de papelão e mostrou o conteúdo a Antonia.
“Não são bonitinhas?”
Eram pequenas velas dessas utilizadas
em aniversários.
“Sua bunda gostosa vai ser o bolo para
a comemoração de nosso acordo”.
“Não é possível, esse maluco vai
querer me queimar”, pensou Antonia.
No entanto, a primeira picada aguda
que sentiu nada tinha a ver com fogo.
O senhor Luck havia adaptado agulhas a
parte inferior das velas e as estava espetando com cuidadoso sadismo nas carnes
da bunda de Antonia.
“Cada uma representa dez por cento da
dívida que seu pai tem comigo”.
Com apavorada aflição, ela ia contando
mentalmente: sete, oito, nove, dez.
Onze, doze, treze.
“As três a mais são pelos juros que
ele não vai poder me pagar”.
A dor agora vinha em bloco, tão feroz
que dava uma sensação quase anestesiante. Era como se a parte inferior de seu
corpo não mais existisse.
“Parabéns a você, nessa data...”
O senhor Luck cantava mórbido enquanto
acendia uma a uma as velas, com um carinho de tara infantil.
Pela primeira vez tentou com todas as
suas forças implorar por piedade.
Nem todo o ódio do mundo poderia
justificar uma demência daquelas.
Experimentou uma intensa náusea
tentando escalar as profundezas do estômago em direção à sua boca, quando o
cheiro do álcool misturou-se ao seu pavor.
Tentou se levantar.
O pânico ordenava que tentasse fugir
dali de qualquer maneira.
O pé firme em suas costas impediu
qualquer tentativa de reação.
A expressão do rosto dele agora era de
uma dureza de estátua.
O cinto de couro amedrontador na mão
direta. Na esquerda, ameaçador, o frasco com álcool sendo sádica e lentamente
virado.
As velas acesas.
Poucas gotas foram suficientes para
que em segundos a bunda de Antonia estivesse em chamas.
Impossível escapar.
Dor inacreditável.
O pé em suas costas imobilizando-a.
Contorcia-se.
Como enlouquecido, o senhor Luck
passou a distribuir as mais violentas vergastadas em sua bunda.
Aos poucos as chamas iam sendo
eliminadas. Pela dor das chibatadas.
Sentia que ia desmaiar.
A dor das queimaduras era intensa.
O senhor Luck saiu por uns instantes.
Ouviu barulho de água.
Ele voltou com uma toalha molhada.
“Não se preocupe, é coisa superficial.
Coisa que qualquer pomadinha cura em dias. Em pouco tempo terá sua bunda suja
de cadela em ordem para dar para esses homens imundos para quem se vende. Quer
se refrescar um pouco?”
Cuidadosamente ele colocou a toalha
sobre seu traseiro, massageando forte. O sofrimento era incrível. Depois, com
dedicação próxima ao carinho ele enrolou a toalha e começou a torcê-la, fazendo
com que gotas frescas de alívio penetrassem em suas feridas.
Difícil dizer quanto tempo durou.
A vermelhidão em sua face demonstrava
que o esforço que ele fazia ao torcer a toalha não era falso.
“Será que acabou? Acho que ele agora
está satisfeito”, Antonia desejou esperançosa.
A pancada surda chegou surpreendente.
Ele estava surrando-a com a tolha
enrolada.
Agora não era apenas sua bunda. Suas
costas também eram espancadas sem piedade.
“Por que? Por que você teve de se
vender tão caro para mim? Por que? Você podia ter tido tudo de mim sem se
vender, desde quando me conheceu. Esse orgulho besta de gente pobre. Eu teria
te dado tudo de graça, de graça”.
Antonia conseguiu tirar forças de
algum ponto em seu interior para, mesmo com a mordaça, sorrir com desprezo para
o senhor Luck.
A cuspida em seu rosto foi uma reação
mais do que eloquente.
Ele saiu em direção à cozinha.
As expectativas não se concretizariam.
Seu sofrimento ainda não terminara.
Não, ele ainda não estava satisfeito.
Voltou com uma garrafa de cerveja.
Bebia pelo gargalo.
“Geladinha. Uma delícia. Quer um
pouquinho para passar o calor da comemoração?”
Vigorosamente recolocou Antonia em sua
vulnerável posição, desatou as tiras de couro e com determinação arrancou o
dildo de seu ânus. Ruído seco.
Agora era o frio. Muito frio.
Insensível à sua dor e a todo o
sofrimento que já lhe infligira, o senhor Luck vigorosamente enfiava a garrafa
pelo seu ânus. Antonia sentia o gelado do líquido inundar seu interior.
Garrafa retirada com violência.
Não consegue evitar. O líquido
esguicha para fora de seu ânus com um ruído nojento, desagradável.
A gargalhada de deboche do senhor Luck
é ainda mais infame.
Não importa mais o que ele possa
fazer.
Ela consegue perceber alguma claridade
através das cortinas.
O dia começa a nascer.
Quanto tempo ainda?
Será que ele nunca se dá por
satisfeito?
Não.
Ela nunca acreditou que fosse possível
suportar isso. Mas agora percebia claramente que ele enfiava, um após outro os
dedos em seu ânus. Entravam, e se acomodavam.
Pareciam nunca acabar.
Agora era sua mão de homem, grande,
ossuda, inteira dentro dela, mexendo-se com desenvoltura em seu interior.
“Você vai saber agora, sua vadia, o
que quer dizer tomar um pé na bunda”.
A voz está pastosa, as cervejas
seguidas parecem começar a fazer efeito.
Já não se preocupa em tentar gemer.
Apenas deixar o tempo passar.
Como ele conseguiu enfiar boa parte do
pé dentro de sua bunda? Parece passear entre suas entranhas.
Como está conseguindo suportar isso
sem incômodo maior.
“Ele me abriu inteira. Estou arrombada
para sempre”.
Os movimentos dele já não são tão
exatos.
Bêbado.
Acendendo mais um cigarro.
“Não meu Deus, por favor, não. Esse
sorriso de novo”.
Pernas menos firmes, o senhor Luck
levanta-se e com esmero embriagado dedica-se por algum tempo a torcer,
retorcer, entortar e endireitar um clipe de metal.
Duas hastes, uma maior outra menor, em
ângulo reto.
A chama do isqueiro passeia pelo
metal, lambe-o até deixá-lo em brasa.
Antonia não pode ver. Apenas guincha
agudo quando sente o calor queimar sua carne.
“Agora você é uma verdadeira vaca.
Marcada com a minha marca, com o L de Luck”.
”Já deve passar das oito. Isso tem de
acabar. Mas como vai ser, meu Deus?”
O senhor Luck não consegue esconder o
cansaço.
Sua ereção, porém, permanece
inalterada. Às vezes parece ter aumentado.
Aparentemente está mais calmo.
A bebida talvez tenha aplacado sua
fúria.
Quase capaz de transmitir carinho,
como uma criança ele beija as nádegas de Antonia. Enfia a língua demoradamente
em seu ânus. Esfrega o rosto naquelas carnes tão machucadas.
Parece verdadeiramente emocionado
quando resmunga meio choroso.
“Por que você teve de se vender tão
caro para mim? Você podia ter tido tudo de mim sem se vender”.
“Será que ele vai me soltar e me
deixar ir embora?”
“E agora, il grande
finale!”
De cabeça para baixo, pelo vão das
pernas, Antonia viu que o senhor Luck começava a desembrulhar um preservativo.
Tentou se soltar esperneou, até que
ele entendeu que ela queria que ele tirasse a mordaça.
“Não, camisinha não! Se eu tenho de
passar por isso, que seja inteiro, total. Amaciou a carne então tem de comer,
seu velho devasso. Se vai enrabar meu cu, quero ter muita porra esguichando
grossa lá dentro dele”.
Os olhos do senhor Luck se incendiaram
lascivos e a ela não foi concedido nem o instante para um gemido: foi invadida
com ferocidade. O senhor Luck entre que grunhia e resfolegava algumas vezes.
Arrombada ao limite do esgarçamento de
suas carnes, “Como um velho desses consegue ter um pau tão comprido e grosso,
meu Deus?” Antonia sentiu seu interior ficar inundado, quente e pegajoso.
Depois, mais algumas respiradas
ofegantes dele, o esvaziamento repentino pela brusca retirada do falo, enquanto
sem encontrar qualquer resistência sentia o líquido gosmento sair de dentro dela
como se apenas vomitasse leitosa pelo rabo.
O esfíncter dilatado num “O” de
espanto, prazer e dor babava branco como uma boca de palhaço triste. Teve seu
vômito de esperma calado com violência e ardor.
“Leve enfiado no cu o título quitado
da dívida de seu pai. Foi para isso que você se sujeitou a se vender e é só o
que você leva daqui com todo meu desprezo e nojo”.
Depois foram pontapés e tapas.
Jogada nua no hall do elevador,
vestido atirado na cara, lágrimas salgadas de revolta e dor sendo engolidas pela
boca seca de raiva, o recibo da dívida do pai dolorosamente introduzido em seu
ânus melado e sangrante. A porta batida com estrondo de desprezo.
Começou a vestir-se.
A
porta abre-se debochada.
“Ia esquecendo: aqui está o seu ovinho
de chocolate de pobre. Boa Páscoa para você, sua coelha cadela e para o
fracassado de seu pai”.
Porta fechada com novo estrondo.
Agora final.
“Mas esse velho é totalmente louco, um
tarado, um pervertido, um desequilibrado! O que você foi obrigada a passar nas
mãos dele!”
O primo não conseguia controlar a
revolta, enquanto cuidava de seus ferimentos.
Injeção? Depois de tudo?
“Sinto, prima, mas não dá para aplicar
no braço. E não se esqueça dos comprimidos: de oito em oito horas, por dois
dias”.
Por uma semana, ainda teve dores
fortes. Sentia-se irremediavelmente arrombada. Temia até ter de ocupar o
banheiro (mas, estranho passou a sentir um certo prazer, uma espécie de
formigamento desconhecidamente delicioso nesse prosaico ato diário de
necessidade).
Logo notou que tudo voltava ao normal.
Apenas o L gravado a fogo em sua carne persistia. Mas com o tempo iria embora,
o primo garantira.
O pai não engolira muito bem a
história de que ela havia conseguido um empréstimo vantajoso para quitar a
dívida, mas fingia acreditar.
Quatro dias depois de seu inferno o
telefone tocou.
Era o senhor Luck.
“Sua puta perebenta, você me
transmitiu gonorreia por esse cu sujo e o pior é que eu passei para a minha
mulher!”
O pai tristemente estranhou a
gargalhada nervosamente histérica da filha.
“Como eu tinha lhe garantido, prima: o
negão é um mendigo cachaceiro, bebe como um gambá, tem uma gonorreia fodida,
mas AIDS não tem. O teste definitivamente era negativo. Dizem que foi um
jogador de futebol razoavelmente famoso que se perdeu na bebida. Chamam ele de
Lance Bogô. Volta e meia ele retorna ao posto de saúde para ver se encontra de
novo aquela enfermeira gostosa que insistiu em dar o cu para ele naquela
noite”.
Antonia não consegue evitar de
acompanhar o primo na gargalhada.
“Com essa sujeira toda uma coisa eu
aprendi primo: que o sofrimento é o mais refinado tempero para realçar o
inigualável e delicioso sabor da vingança”.
“Com a medicação que lhe dei, esse
gostoso rabo, que devo ter sido o primeiro a experimentar quando éramos
crianças, está curado, totalmente livre da gonorreia. Por falar nisso, prima,
ainda tenho saudades de nosso tempo de crianças e estou a fim de dar uma
passeadinha nas carnes desse cu agora limpinho”.
“Sinto primo, sou muito grata a ti,
mas tenho planos melhores para meu rabinho tão maltratado”.
Apesar do êxito em sua vingança,
Antonia sorri triste, como se algo lhe faltasse.
A velhice e a doença juntaram-se à
aliada definitiva, a morte.
O pai de Antonia não durou mais do que
seis meses. Do leito de moribundo desconfiava, não entendia bem. Mas teve um
velório sereno, embora solitário, no salão do único bem dos tempos de riqueza
que conseguiu preservar: o palacete da família.
O senhor Luck tornou-se bem menos
prepotente. Tem menos dinheiro e poder também, especialmente depois que a
esposa incondicionalmente apoiada pelos filhos, conseguiu com a história da gonorreia
adquirida do marido arrancar-lhe parte substanciosa dos bens no processo
litigioso de divórcio.
Com os conhecimentos da faculdade de
Economia, Antonia hipotecou o imóvel, fez alguns investimentos rentáveis e com
algumas especulações de sorte conseguiu em pouco mais de um ano amealhar uma
fortuna muito confortável.
Tão confortável quanto o banco
traseiro de couro legítimo (tinha começado a adorar couro) de seu carro de
luxo.
“Escuta Bogô, você nunca pensou em
gravar a fogo um B na minha bunda ao lado do L, enquanto transamos? Depois eu
faço uma tatuagem para deixar permanente e mostrar para todo mundo que meu cu é
de LB: propriedade de Lance Bogô!”
O motorista não entendeu muito bem a
malícia maldosa da pergunta, mas algo lhe dizia que o sorriso de perversidade
de Antonia tornava a proposta mais do que justificável.
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