segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Coleira De Ouro (ou O Grito Se Cala No Medo)

Foto: Adam Chilson

          Bem, na realidade, não é de ouro.
           Só uma coisa em metal e pedrarias douradas que uma suburbana que monta bijuterias fez sob Minha orientação em troca de uma pouco menos do que razoável (Para Mim, claro) enrabada e meia dúzia de bofetadas.
            Well, também não é exatamente uma coleira.
           Mais uma espécie de gargantilha ou uma daquelas bobagens que travestis usam no pescoço para tentar esconder o pomo-de-adão.
             Mas como brilha bonita!
           Só menos do que o brilho canino nos olhos das vadias quando a veem.
§
           A pesada porta corre rangente como um gemido de escrava sobre o trilho metálico enferrujado.
           Quase no horário exato.
           As palavras no bilhete (Letras recortadas de jornais coladas sem cuidado) são poucas e não deixariam dúvidas nem para o (Limitado) raciocínio de uma fêmea: FIQUE NUA E ENTRE! (A nudez completa é o traje de espera da mera mulher que se deixará morrer para que nasça a escrava)
           Ambiente de realidade fake: poeira, paredes cariadas, manchas de umidade, às vezes tijolos aparecendo, sujeira indefinível no chão aqui e ali, objetos estranhos que um dia já foram alguma coisa reconhecível, ferro e ferrugem, um ou outro rato exercitando-se em velocidade. (Odor enjoativo de ruínas). Enfim, um galpão industrial abandonado igual ao de qualquer cenário de filme vagabundo.
          Vento invisível traz o frio de fora pelas aberturas dos vidros quebrados ou inexistentes das janelas enormes.
            - Maître Araignée?
            “Bem vinda à minha humilde casa!”, disse a aranha à mosca.
§
            A iluminação não ajuda.
           Um tanto mais gorda (Elas sempre são) do que na foto, mas carnes passíveis de serem apreciadas desde que manuseadas com mestria. Pelos morenos acima da racha embutida da boceta. (Os lábios ainda guardados na ausência de excitação) Poucos, curtos, quase imperceptíveis, mas lá. (Foi advertida, vai se arrepender).
            A iluminação não ajuda.
             O cabelo comprido atrapalha, não dá para ver bem o rosto. Mas que importância tem a aparência de um rosto de mulher? (Retorcidos na dor todos são lindos)
            - Maître Araignée?
            Amedrontada. (Na medida exata, como Eu gosto)
            A iluminação não ajuda.
           Mas, vitorioso, o brilho dos olhos da cadela fica imobilizado quando a vê reluzindo no chão entre a poeira. Ajoelha-se. Sorri hipnotizada. Coloca a coleira de ouro no pescoço e a acaricia com satisfação. (Algo mais previsível do que a previsibilidade feminina?)
            Um grito de horror soasse agora, ela não se abalaria.
            Por que então me perceberia chegando por suas costas?
§
           O puxão violento nos cabelos chega traiçoeiro antes mesmo da surpresa e do susto. O grunhido amedrontado salivando quente na palma de Minha mão. Os olhos querendo secar, arregalados no medo por não poderem se fechar, procurando inutilmente Me enxergar por trás do ombro.
            Respingos de minha saliva raivosa umedecem e esquentam seu ouvido.
           - Podia deixar, ninguém ouviria, mas detesto gritos. (Maior delícia ouvir uma escrava apanhar calada) Quer se arriscar a saber o que acontece se der um pio sem Minha ordem?
          Quase imobilizada, porém o insignificante balançar aterrorizado da cabeça é eloquente, “NÃO!”, apesar da ausência de som.
           Limpo a mão em seus cabelos e a arremesso pesada sobre seu rosto. O ruído estalado da bofetada fica escorrendo lento no eco do vazio.
            Novo puxão violento nos cabelos, a boca aberta apavorada.
            -Como se diz, ordinária?
            - Obrigada Maître Araignée! (Taí uma frase que invariavelmente me deixa de pau duro)
           Ela percebe e lambe o volume que aparece sem discrição por baixo do pano de minha calça.
          Torcido com violência, o minúsculo pedaço de carne de seu mamilo quase desaparece entre Meus dedos. (Fazê-la sentir a dor no corpo para experimentar o gozo na alma)
          Dor silenciosa grita de sua boca aberta. (Engole humilhada Minha  escarrada cuspida) Lindo ouvir como canta o silêncio na voz do corpo nu de uma mulher em sofrimento.
           O grito se cala no medo.
           Aparece a primeira lágrima de dor.
           - Quem lhe concedeu permissão para ter a ousadia de molhar Minha calça com essa baba de lambida de puta escrota?
           - Perdão, Maître Araignée!
§
           A agonia da humilhação ansiada.
           A sola da bota em sua nuca impede qualquer movimento de fuga (Bobagem, ela não quer fugir)
          O rosto esmagado contra a poeira escura do chão, as mãos tentando manter o equilíbrio instável, os joelhos arranhando-se incômodos no cimento áspero, separados ao máximo para realçar a bunda empinada e a boceta exposta começando a umedecer melada.
          Quase pronta para iniciar o caminho da maravilhosa transformação: uma mulher nua (Um monte de carne crua) vencida pela fêmea (Arreganhada sem pudor, gosmenta, quase espumante) entregando-se para ser dominada e, enfim, poder ser chamada de CA-DE-LA!
         Umedeço os lábios e passeio vagarosamente os olhos de cima abaixo por cada detalhe de suas carnes indefesas, enquanto lentamente (O suficiente para que o medo dela não congele) retiro o cinto de couro rústico. (A avenida do Meu prazer começa em qualquer ponto das carnes de teu corpo que Eu escolher para que Minha chibata dê o primeiro passo decidido no rumo da dor)
         A primeira vergastada, precisão certeira, queima as enrugadas pregas avermelhadas da boceta. (No teu tormento quem te faz com dor te faz com couro)
         Para a verdadeira escrava, a primeira chibatada é como a primeira mordida para o faminto, jamais será a última, jamais virá aquela que trará a saciedade. Uma fome angustiante sempre persistirá.
§
          - O que Eu lhe disse a respeito de pelos, ordinária?
         - Eles ainda estavam curtos para serem depilados. Arrependida. Piedade, Maître Araignée!
         O pontapé no vão de suas pernas dói mais do que o couro do cinto. (É tão mais humilhante chutar uma vadia)
          - Sempre podem ser raspados, égua descuidada! Vire-se!
         Costas contra o chão, braços abertos em cruz de desespero, mamas plenas de carnes deliciosas respirando fundo (Ansiedade, lógico), pernas dobradas, abertas sem resistência (Bobagem, ela não quer resistir), face suja de pó e pavor (Patética maquiagem de palhaço assustado) desmanchando-se silenciosa quando vê a navalha brilhando metal prateado saindo do bolso de minha calça. (Só cortei uma de leve, no seio, até hoje. Uso só  para amedrontar, mas agora...)
          Prendo entre os dedos um pequeno chumaço de pelos e puxo com força. Totalmente inesperada, a dor súbita inunda seus olhos inchados com lágrimas indecisas, sem coragem de rolar silenciosas pelo rosto ainda avermelhado pelo tapa. Pequenas gotas de suor crescem esparsas em sua testa.
          Estremece, porém, nenhum som (Já disse, o grito se cala no medo)
          Lambo o líquido salgado de seus olhos vermelhos com expressão sádica, enquanto passo o aço sorrindo gelado entre os lábios de sua boceta.
          - Então, prefere que Eu arranque esses pentelhos nojentos um a um?
          Inútil olhar suplicante por piedade.
          As pernas estão rígidas, mas ela as separa tanto quanto pode expondo totalmente a rachadura que parece incendiada na iluminação cada vez pior.
          A coleira de ouro brilha nervosa.
§
         O tapa forte na boceta escancarada, totalmente indefesa (Bobagem, ela não quer se defender), causa um sofrimento de intensidade única na fêmea. Ela balança a cabeça violentamente de um lado para o outro, lábios apertados, impotente como se estivesse amordaçada.(Por que chora tão séria e triste ante a minha sorridente brincadeira de criança sádica sem limites de perversidade?)
         Fluxo de suor escorre grosso pelo rego feminino entre seus peitos, derrama-se pelos flancos e molha o chão sujo.
         Minha língua, saliva grossa e quente de excitação, molha generosa os pelos, de vez em quando entra pela racha e volta encharcada de suco salgado de fêmea e a mistura vai ensopando os pentelhos. A navalha indecisa começa a andar ameaçadora sobre a pele (Acho que algum dia preciso mandar afiar essa porra) raspando, limpando, deixando à mostra apenas a branca pele nervosa pela agonia da raspagem. (É claro que quer gritar, mas sabe que não pode, não deve)
         Perfeito! Apenas carnes de fêmea à vista.
        Um pontapé menos agressivo coloca-a novamente de bruços. Agarro-a novamente pelos cabelos e sem piedade esfrego seu rosto no chão, obrigando-a a lamber a poeira de cor indefinida que cobre o cimento áspero.
         Afasto-me alguns passos e ordeno com serenidade.
         - Rasteje até Mim e lamba Minhas botas.
         Um simples estalar de dedos.
         Desajeitada, mas imediatamente submissa chega a meus pés e solta a língua ansiosa para fora da boca.
         - As solas, vadia! Não quero que emporcalhe o couro com essa saliva de puta suja!
        Lindo de ver. (E ainda há quem não compreenda porque as chamamos de cadelas)
§
         As margens do cu anunciam as pegajosas águas da escuridão funda de pântano que queima líquido. Meu dedo maior trabalha impiedoso no buraco pulsante numa mistura de excitação e dor. Rebola instintivamente auxiliando a penetração mais profunda. E lambe, e chupa e engole com sofreguidão a própria merda que Meu dedo lhe serve à língua, que devia repugná-la, mas que ela agora, incompreensível, deseja agradecer com devoção e só não o faz em palavras porque sabe proibida de emitir som.
        Apenas um aglomerado morno de pele e carne, músculos e nervos, um corpo voluntariamente exposto e entregue à indefinição do que Minha vontade deseje causar-lhe como sofrimento. (Quase lá, quase apenas um animal, dá para sentir)
        Agora três dedos enfiam-se decididos no mais profundo do sem censura de sua boceta, que palpita em ritmo cardíaco, até o osso doer dolorido na palma de Minha mão e conversam nervosos com o calor úmido de seus sucos interiores de fêmea no pré gozo. Um empurrão mais forte querendo dividí-la ao meio e o fisting se encaixa completo.
         Pareço ouvir vindo de dentro de seu corpo um leve ruído riscado, um inquietante odor ácido de mulher entra-Me pelas narinas e ela acende rápida e brilhante na gozada inevitável, como a chama de um fósforo. Atreve-se a virar o rosto para trás e a satisfação do gozo inusitado está estampada no sorriso desavergonhado do rosto sujo em transe. (Lindo, mas impensável permitir um sorriso a uma escrava em tormento)
         O tapa na face submetida a traz de volta à realidade sem maior agitação: sabe agora que resta submeter-se, entregue ao que vier, seja lá o que venha de Mim.
         - De quatro, cadela!
        Na vergastada estudada, o cinto enrola-se em sua cintura e quando puxado com força deixa a lembrança de uma perfeita marca vermelha. (O primeiro fio da teia de flagelação)
       O grande momento aproxima-se. (Dê graças aos deuses dos prazeres, pois o funeral que te renascerá se aproxima) A simples mulher será transformada na mais maravilhosa criatura que pode ser gerada na dor: a escrava. (O fantoche de carne à disposição para ser manipulado pela mão do Mestre)
        A coleira de ouro aparece quase tímida entre seus cabelos suados espalhados pelos ombros.
§
        As costas arqueadas deixam as nádegas em realce, perfeitas, quase flutuantes, como se tivessem sido criadas apenas para esse momento. Um tremor de desespero inútil percorre rapidamente suas carnes abandonadas.
        O couro desce novamente, dessa vez deixando uma estrada vertical de vermelhidão dolorida em suas costas (Vou lamber com o cinto cada centímetro de tua carne ordinária, como  quem canta os versos de um velho rock)
       As paredes impassíveis parecem temer aplaudir o espetáculo de seu tormento, a sucessão de riscos vermelhos traçada pelo couro, primeiro tingindo a pele branca de sua bunda, depois se superpondo na repetição ritmada do açoitamento em suas costas. (O diálogo de sofrimento entre a carne e a dor)
        O primeiro filete vermelho escorre com naturalidade sanguínea. Derrama o sangue de sua dor em honra a Mim (O corpo dessa fêmea que, mesmo nu, não teria graça maior, é agora um maravilhoso objeto de prazer respondendo como um instrumento de gozo a cada toque... blues em sinfonia)
        Delicioso ouvir o silêncio do som de seus gemidos amortecidos pelo mais puro medo. Marionete emudecida movimentando-se sem vontade própria suspensa pelos fios do pavor manipulados por Minha vontade indiscutível. O cinto desce cada vez mais rápido e violento mordendo mais fundo sua pele flagelada.
        Jogada no chão. Um monte de carne com anatomia quase humana, contorcido numa estranha espiral que se fecha em si mesma, uma bola fetal que se contorce em espasmos de agonia. (Carne plena de vazio a ser preenchido com alma por Meu açoitamento)
         Sem emitir um único grito, um gemido sequer.
         A coleira de ouro permanece brilhando com indiferença debochada.
§
        A intrincada teia de marcas fundas deixadas pelo couro em seu corpo martirizado forma um ensandecido desenho inquietante. (Ah, Pollock, se tivesses preferido a carne às telas)
       Obediente, permanece calada, mas seu coração bate com nitidez no ritmo do espancamento, sua alma queima no incêndio da dor, seus sucos se derramam fartos, sem barreiras e escorrem por suas coxas. (Fonte de fluxos verte água de gozo agora e até na hora de sua vida no prazer. Viva!)
         Lágrimas frescas escapam dos olhos, apenas dois riscos apertados em seu rosto estranha e pateticamente sorridente.
         Sabe agora todos os prazeres perversos que posso lhe proporcionar. Sofre a dor como o desafio único que pode levá-la à salvação pelo gozo. Compreende que devo matar sua vontade de mulher para que nasça em majestade a escrava absolutamente servil. Meu mártir particular sofrendo pela fé fanática no prazer que posso lhe conceder. Entrega-se para que a leve além da resistência física e de alma e a traga para o lado da escuridão da humilhação onde finalmente queimará os olhos no prazer da luz da revelação: cuspirá flores mas, gulosa, mastigará espinhos.
§
          Percebo que está exausta, mas feliz.
          Suas mais sombrias fantasias se tornaram realidade.
          - Imploro que não pare, Maître Araignée!
          Erro infantil.
         Seus olhos se espremem em dor com outra bofetada. Face vermelha pelo tapa, abaixa os olhos e humilhada encara o chão. (Good, carne e alma escravizadas na plenitude)
         Aposto que quer porque quer que Eu a fornique nesses buracos agora já naturalmente se arreganhando até engordurados de tão úmidos de fluidos interiores se derramando para fora, escorrendo brilhantes grudentos e com cheiro de corpo. (Não terá esse prazer. Terá de conformar-se em gozar pelo Meu gozo)
         - Sede, ordinária? Abra a boca!
         Incrédula Me vê abrir as calças, tirar o pau para fora e começar a mijar em sua boca. O jato passeando por seu corpo, mas sempre retornando a seus lábios abertos, a resistência em engolir o jorro quente, o desejo de cuspir, mas a certeza de que deve beber cada gota, língua e garganta trabalhando apressadas.
         Inevitável, tenho de Me livrar do fogo elétrico que trago entre as pernas. (Boceta gotejante agora e na hora de Minha punheta, amém. Hein?!)
         Grossas gotas brancas se espatifam pegajosas por sua carne marcada.
         - Você Me fez gozar, vadia e nenhuma ordinária é merecedora de Minha porra. Por isso vai apanhar mais.
         Os tapas se repetem velozes em seu rosto.
         Agarro novamente seus cabelos (Mero objeto, uma marionete de carne) e ordeno:
         - Limpe meu pau, com a língua, limpe meu pau inteiro, sua puta!
        Coberta de mijo, dor e porra chupa esfomeada, enquanto sua própria porra escorre pelo meio de suas coxas, a boceta brilhando arreganhada.
        Sem cauda, mas em tudo uma cadela. Uma transmutação que só a entrega e humilhação incondicionais podem produzir.
          A coleira de ouro brilha vingativa.
§
         Bom ter desfrutado de sua dor silenciosa, mas agora não mais novidade.
         Entediado de brincar com ela.
         - Tem um chuveiro lá (Na verdade, um cano escorrendo água gelada) e uma toalha (O trapo mais humilhantemente velho e feio que consegui). Está imunda e fede, cadela!
         A bofetada agora é mais de humilhação do que de dor.
         Lágrimas novas correm fartas por seu rosto.
        No bloco de carne nua feminina que recebe o tapa vejo a cadela rebaixar-se rastejante indo em direção ao banho.
         - Obrigada Maître Araignée!  
         Sombras de fim de tarde começam a se grudar nas paredes.
         Tremendo sob a água fria, aquela escultura de carne perdeu a noção de tempo, é incapaz de saber por quanto tempo foi usada e degradada. Porém, vergonha e a humilhação ansiadas medem-se pela eternidade do desejo. Experimentou um brutal ato de domínio. Cada músculo está dolorido, cada pedaço de pele está marcado, foi usada por Mim para Meu exclusivo prazer sem o direito de emitir o mais leve gemido.
         Vai novamente colocar-se de quatro.
         - Acabou. Pode vir andando.
§
         Treme ainda e não apenas por causa do banho frio.
         - Permissão para falar, Maître Araignée.
         - Concedida, cadela desprezível.
         - Tudo o que me importa agora é poder saber que fui de Seu agrado e me coloco para ser Sua integralmente, para fazer qualquer coisa que deseje, para ser um instrumento a ser utilizado para o Seu prazer. Posso voltar aqui outro dia?
         - Bobagem, nunca atuo duas vezes no mesmo local.
         - De hoje em diante, Maître Araignée, vou precisar ser humilhada pelo Senhor como necessito de ar para respirar. Não tem jeito, não me mande de volta à minha vida sem graça, sem a esperança de que irá me convocar novamente para submeter-me sob Seu desejo em degradar-me. (Instante quase impossível de perceber ou medir, mas definitivo em sua vida até aqui não vivida em plenitude; o momento em que a cadela emerge de dentro de uma fêmea é único, ela sabe, e tentará repeti-lo sempre, mas só o conseguirá real e plenamente nas mãos de um verdadeiro Mestre)
         - Se e quando Minha vontade manifestar-se, saberá.
         - Não tenho vontade própria, não sou nada, algo existente apenas a partir do Senhor. Minha vontade é a Sua. Apenas me sentiria recompensada em saber que fui cadela de Seu agrado.
         (Jamais elogie uma vadia depois da primeira sessão, por mais competente que tenha sido enquanto cadela, pois ela se sentirá uma superstar pornô merecedora de um Oscar e arrotará grandeza para todas as outras ordinárias, próximas ou não, na primeira manicure de sábado)
        Acendo um cigarro e penso rápido. Esmigalho a brasa sobre a carne macia de seu seio.
       Dor súbita, imensa eu sei, mas a ameaça de meu olhar amordaça o grito de sofrimento. Apenas a reverência da prece máxima que a dor ensina a todas:
       - Obrigada Maître Araignée.
       - A marca de Meu reconhecimento te acompanhará por um bom tempo ainda. Agora apenas retire-se!
       Da cabeça aos pés desse corpo marcado pelo couro vê-se que a Maculada Concepção do Prazer emerge despudorada da alma das carnes insossas dessa fêmea banal. O sangue da vida plena foi drenado para suas veias a cada chibatada. Enquanto ela se afasta sei que sua alma estará para sempre ajoelhada ante os deuses da dor e do prazer. Sua carne branca, antes uma página a ser escrita, agora é uma história de submissão brilhante, brilhante como...
       - Espere!
       - Maître Araignée?
       - A coleira, a coleira de ouro: coloque-a exatamente onde a encontrou.
       Tristeza intensa, impossível de descrever, faz seu rosto desabar em choro vigoroso de decepção.
       - Outra mosca deve chegar daqui a pouco.
       (O grito se cala no medo... do desprezo)

Um comentário:

  1. não conhecia este.
    fantástico e Exato, como sempre...
    ...mas que fiquei triste, triste enquanto li, fiquei...
    ainda.
    beijos, sr, bravo pelo conto e por tudo.

    ResponderExcluir