segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Até ontem

Foto: Adam Chilsom

Meu amor ferido
Era uma velha imagem
De uma rosa apunhalada
Ah,
Era tão romântico
Tão antiquado
O quadro do crime
O jeito como ferida
Mão no peito comovida...
(“O Crime”, José Carlos Capinan)



Até ontem.
Até ontem eu não conseguia imaginar como poderia durar mais um minuto sequer.
Ainda mais depois do que houve.
Até ontem.

Já havia durado demais.
Treze é um número cheio de significados. Exatamente treze anos: três de namoro e dez de casamento.
Não foi ontem que percebi que alguma coisa sempre faltava. Mas para qual casal não falta?
Culpa minha não podia ser. Sempre fui conhecido e reconhecido como um sujeito tremendamente competente em termos de sexo e com um pau de tamanho mais do que acima da média. “O Jumento”, brincavam os amigos. E não estavam se referindo à minha inteligência. Eu tinha certeza.

Desde a primeira vez ela sempre gozou como uma alucinada. Já havia tido alguns caras antes de mim. E olha que eu nunca me incomodei com isso. Sempre fui mais eu. Apostava tudo no meu “taco”. Literalmente.
Porém, eu percebia que inteiramente satisfeita, satisfeita ela não estava. Bom, mas qual mulher consegue estar plenamente satisfeita quando a questão é sexo? Quem sabe o que se passa lá dentro delas?
Eram sete fodas por semana que ela levava — sem contar as rapidinhas de vez em quando pela manhã e, às vezes, umas extras em datas especiais como aniversário de casamento, Natal, férias na praia ou depois de uns uisquinhos a mais. Não tinha do que reclamar e meu pau era testemunha orgulhosa da obra de alargamento que havia promovido em pouco mais de dez anos naquele vão de pernas.
Brigas? No nível normal. A maior parte quase sempre depois dessas trepadas monumentais em que ela gozava num volume de gritos capaz de acordar os vizinhos (Sempre achei que aquele idiota sorriso amável que às vezes o Mello me endereçava, quando pela manhã nos encontrávamos no elevador, era de pura inveja pelo que escutava através das paredes à noite). Era aquele nhén-nhén-nhén de que “apesar de todos esses anos você não me conhece, só um pau grande não é tudo, você não sabe nada sobre mim, sobre o que eu quero”, enfim a resmungação padrão de toda mulher.
Não tinha do que reclamar. Sempre a respeitei como mulher e como fêmea. Nunca fiz com ela aquelas coisas que só se fazem com putas. Para isso existem as putas. Então quando eu estava com vontade de fazer uma dessas coisas eu procurava uma puta, porque virilidade de sobra para isso nunca me faltou, graças a Deus.
Enfim, uma vida de casal normal.
Até ontem.

E para quem as coisas andam bem hoje em dia?
Dá para estar satisfeito com a economia desse país desse jeito?
E quem aquele corno do dr Cristino pensava que era para me demitir, depois de quase vinte anos, assim dessa maneira, sem mais nem menos?
Está certo, está certo, quatro uísques seguidos eram muito acima da minha cota, ainda mais numa terça-feira. Mas bêbado eu não estava. Só com o humor um pouco alterado. E qual desempregado não estaria?
Ela nem percebeu quando cheguei.
Estava na cozinha, em frente à mesa, mexendo com alguma coisa de comida que iria virar o jantar.
Sempre tinha desejado, nunca me atrevido. Não sei se eram os uísques, mas juro que nunca havia olhado para a bunda dela daquela maneira.
Até ontem.

Não sei o que deu em mim.
Violento? Sim, um pouco. Talvez muito.
Nem dei bola para o susto e para a tentativa de protesto dela.
Com a mão esquerda agarrei-a pela nuca, esmaguei seu rosto contra o tampo da mesa. Com a direita levantei o vestido, arranquei/rasguei a calcinha, tirei o pau para fora e fui empurrando com vontade, assim a seco mesmo, sem nem me incomodar que era a primeira vez para ela.
Os gritos dessa vez eram mais altos, de dor, de medo, dava para perceber. Mas o calor daquele botão de cu virgem que em treze anos eu quis ignorar era hipnótico. Não existia mais nada no mundo, desemprego, o caralho: só meu pau rasgando prega por prega daquele buraco quente. Quando cheguei ao fundo, uma estocada mais poderosa, dei um suspiro, recuperei a respiração e comecei a entrar e sair, entrar e sair, entrar e sair. Nada mais importava no mundo, só estar indo e vindo dentro daquele rabo. Os berros dela passaram a ser de conformismo, de impotência, talvez de entrega conformada. Sua transpiração fazia com que minha mão escorregasse de sua nuca, mas eu voltava a imobilizá-la firme, sem permitir escape. Era a delícia das delícias e eu nunca soubera.
Até ontem.



Não sei quanto tempo durou. Só meu pau, estava enorme como eu nunca tinha visto, até ontem, entrando e saindo, os gritos, o suor. Nenhuma palavra de nós dois.
Talvez eu jamais tivesse parado, mesmo depois que gozasse, mas a cor vermelha me fez entrar em pânico.
Havia marcas de um vermelho muito forte em sua nádega direita: meus dedos apertavam sua carne como se fosse somente, simplesmente... carne.
O atrito, de um momento para o outro, havia ficado mais folgado e escorregadio. O calor, agora eu sentia, era úmido, melado, quase pegajoso. Olhei para baixo: havia uma ou outra partícula de cor mais escura, mas a maior parte era sangue puro, vermelho puro, puríssimo. Sangue pra caralho, sem trocadilho.
Eu estava quase gozando, ia gozar de uma forma como nunca antes tinha gozado, até ontem.
Mas saí.
Dobrada sobre a mesa ela era uma hemorrágica catarata sanguínea acoplada a um corpo de mulher pelo cu.
Medo e vergonha.
Ela se virou e me olhou com um espantalhado olhar de incredulidade, porém firme. Apertava a mão direita contra a boceta enquanto com a esquerda debulhava nervosamente o bico de um seio. Sua face estava começando a ficar roxa. Acho que tinha se machucado ao ser mantida empurrada de encontro ao tampo da mesa.
Só consegui baixar os olhos e dizer: “Desculpe, eu não queria...”.
Nunca tinha visto aquela expressão de ódio em seus olhos. Até ontem.
Veio o nhén-nhén-nhén de sempre, só que agora com raiva de cadela chutada, ferida, mas com algumas alterações.
“Apesar de todos esses anos você não me conhece, só um pau grande não é tudo, você não sabe nada sobre mim, sobre o que eu quero. Seu escroto, seu escroto! Você é um bosta de homem!”.

Nenhum homem que se diz homem deve ouvir isso e ficar quieto.
Levantei a mão e lancei a bofetada furiosa.
Eu nunca havia batido nela.
Até ontem.
A figura dela tonteou ante meus olhos. Joelhos fracos. Tremendo. Eu.
Aí eu vi e não acreditei no que vi.
Até ontem.
As lágrimas desceram rápidas e brilhantes num excitante contraste com o ritmo enervantemente lento com que a gota de sangue escorria grossa do canto esquerdo de seu agradecido sorriso perverso de gozo.

Até ontem eu não conseguia imaginar como poderia durar mais um minuto sequer.
Ainda mais depois do que houve.
Isso foi ontem.
Agora sei que vai durar muito, talvez para sempre. E vai ser de um jeito que nunca foi.
Até ontem.


Um comentário:

  1. até ontem não tinha este blog nem similares... tremendamente bem-vindo e sucesso!

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