sexta-feira, 22 de julho de 2016

Como Rehabilitar Um Invalido



COMO REHABILITAR UM INVALIDO

Devo participar aos amigos que um mestre em SM me impoz a tarefa de compor glosas para um motte que synthetizasse as dores do perdedor da visão, permanentemente vendado, quando submettido a um normovisual.
Taes dores seriam quattro, duas decorrentes da propria cegueira e duas do sadomasochismo:

Dor physica pela privação do sentido e consequentes limitações;
Dor psychologica pela memoria visual e sentimento da perda;
Dor physica pelo sacrificio corporal na dominação;
Dor psychologica pela expectativa de imprevistos castigos/abusos.

Assim me desincumbi da missão.

MOTTE:

"Sorri, na dor, a carne", e um olho cego,
na dor, brilha, por quattro vezes brilha.
Me escreve um mestre sadico, e me entrego,
em glosas, a seguil-o nessa trilha.


GLOSAS:

Àquelle que perdeu a vista, são
as dores até quattro. Na primeira,
é physica a agonia: a gente cheira,
escuta, appalpa, e o gosto amargo é tão
mais forte, emquanto o doce, agora, não.
A cruz que, na cegueira, hoje carrego
mais pesa a cada passo e mais um prego
me fura a mão a cada gesto, amen!
Mas, pelo olhar daquelle que vê bem,
sorri, na dor, a carne e um olho cego.

Alem da escuridão, tem a segunda
dor cunho psychologico. A lembrança
daquillo que enxerguei sempre me lança,
em sonho, à profundeza mais profunda,
tal como um cagalhão na fossa immunda.
Jamais, ao accordar, se desvencilha
a gente desse sonho, maravilha
que foi, tão colorido. Assim, eu creio
nos sadicos: meu olho, ao olho alheio,
na dor brilha, por quattro vezes brilha.

Si o cego masochista for, terceira
dor sente ao se entregar nas mãos de alguem
que delle se utilize e goze, sem
escrupulos. Gostosa brincadeira
é ver-me, um verme fragil a quem queira
tormentos inventar. Eu não sossego
aos pés de quem maltracta um pobre cego:
rastejo, me adjoelho, lambo, chupo,
appanho... Ao acceitar-me no seu grupo,
me escreve um mestre sadico, e me entrego.

Si é physica a terceira dor, a quarta,
de novo, é psychologica. Domina
um cego quem na bocca, qual latrina,
lhe mija, quem assim goza e se farta.
Comtudo, é de dar medo a branca charta
que o sadico detem emquanto humilha.
Quem sabe o que virá? Mesmo "baunilha"
não sendo, o cego soffre... Um tapa? Um chute?
Me ponho (e não serei eu quem discute),
em glosas a seguil-o nessa trilha.



2 comentários:

  1. Não cego assim também pouco vejo
    Da latrina sempre lagrimejo
    Ver é um bem divino e
    talvez só ao cegos um mal seja




    ResponderExcluir
  2. parabéns aos 2 - SadoMaster e Glauco - por hoje, dia do escritor...

    ResponderExcluir