quinta-feira, 5 de maio de 2016

Açúcar & Veneno (Parte 1)


Na verdade, o mendigo nunca está muito interessado na qualidade do prazer que vai tirar da bituca de cigarro que apanha no frio úmido do cimento da calçada: ela simplesmente está ali, implorando para ser queimada & ele está sempre com uma louca vontade de fumar.
Naquela noite, a baranga endinheirada que duas ou três vezes por mês aparecia suplicando por um show de rola já chegou alegrinha: tinha participado com o marido de um rega-bofe oficial repleto de pais da pátria filhos da puta. Arrotando hálito de champanhe importado, implorou por um arrombamento a seco. Para ela, dar a bunda era uma sensação de delícia de um prisioneiro saído de longa pena, andando num temporal, o que seria incômodo para a maioria das pessoas. Quase ninguém passando por ali àquela hora noturna. Vergou-se de bruços no capô do carrão importado, levantou o vestido, arriou a calcinha (a vagabunda sabia que lhe era proibido usar essa inútil & incômoda peça de roupa, especialmente em Minha presença) & expôs o piscante buraco de cu. Iniciei o encaralhamento sem piedade & com três ou quatro bombadas até o talo, veio o cheiro & percebi que Meu pau estava esmerdeado. Gritei o protocolar “Puta que pariu!” para o céu da madruga, com um puxão estraçalhei a calcinha & comecei a limpar o cacete com o caríssimo trapo de seda enfeitado com rendinhas. A vadia tentou Me xingar de vagabundo, porém, na segunda sílaba, com uma bela bofetada deixei-a com cara de pano molhado & coloquei-a de bunda sentada no asfalto garoado. Chorando feito vaca velha perguntou “Posso voltar amanhã?”. A sola de Minha bota atirou sua face de maquiagem borrada no chão. Abriu a bolsa, puxou um maço de cédulas: “Eu te dou dinheiro. Pelo amor de Deus, só não me deixa ir pra casa sozinha comigo mesma”. Peguei as notas, arremessei-lhe na cara uma estereofônica cuspida carregada de nicotina & atravessei a rua em direção ao bar do Zé. Não tem jeito, fodas no frio da garoa da madrugada sempre serão tristes. Da porta, Cris havia assistido a tudo com uma perversa alegria no sorriso & ao ver Meu caralho ainda duro como um poste falou “Vamos entrar, que Eu resolvo isso”. Era uma chupadora atávica. Sua língua não escolhia paladares de limpeza ou sujeira: desde que tivesse uma pica estufando-lhe a boca, extraía tesão do envenenamento doce ou da doçura envenenada. Sabores, apetitosos ou repugnantes eram apenas complementos estimulantes à sua depravação enquanto boqueteira viciosa que não conseguia ou queria resistir à enlouquecedora deliciosa sugação peniana. Merda ou mel, açúcar ou veneno, a felação injetava em suas entranhas um tesão irresistível em cada milímetro de suas carnes de cadela emporcalhada em prazer. Importava apenas que recebesse um generosa dose de suco de macho esporrada em seu estômago. E era exatamente o que pretendia lhe proporcionar em troca da limpeza salivar de Minha caceta.
“É vamos beber toda a grana da burguesa; a escrota vai curar a bebedeira na cama com o marido que está roncando com o bundão branco de fora & amanhã acorda madame de novo & na semana que vem volta como puta”.
Eu nunca precisei de bebedeira para acordar sabendo sempre o zé ninguém que sempre fui.
Só então, de canto de olho, percebi que, da esquina, um belo par de coxas perfeitamente encaixado numa mini saia vermelha, também havia assistido à cena toda.
Eram os tempos mais mal cheirosos do golpe de estado. Os militares, além de atentos para livrar o país do “perigo soviético”, também assumiam como “missão patriótica” perseguir garotos de cabelo comprido,  algum descuidado portando ou queimando um baseado, homem que desse cu para homem, mulher que roçasse boceta com outra & reprimir qualquer comportamento sexual ou proto sexual que a “intelligentsia” da caserna considerasse degenerado & incompatível com os “valores morais de nossa sociedade cristã”. Um horror estúpido.
Expor-se como praticante de sadomasoquismo, então, era praticamente pedir para ser “morrido suicidado”.
A gente colocava anúncios mais ou menos cifrados em revista vagabunda de mulher pelada, se comunicava por caixas postais & com toda a paranoia própria do período, organizávamos encontros & reuniões discretíssimos preferencialmente em bares & restaurantes; experiências pessoais trocadas quase como segredos de guerra no clima da neura da época.
O bar do Zé era agradável, porém, o Zé como todo dono de bar (pra Mim todo dono de bar é Zé) era tagarela &, perigo indesculpável, bebia feito um afogado sedento. Logo, não resistia a comentar com quem quisesse & com quem não quisesse ouvir, que de vez em quando ali se reunia um grupo de doidos que gostavam daquele troço de sadomasoquismo, que era “aquela coisa de gente matusquela vestida de couro preto dando chicotada em gente louca pelada que gostava de apanhar”. Inevitável que um certo público de curiosos de zoológico também fosse ao boteco, com intenção de conhecer algum daqueles “malucos”. Poucos admitem querer morar no inferno, mas a maioria tem um perverso desejo de visitá-lo.
Porém, apesar disso, Eu gostava do bar do Zé: lugar agradável, música de fita centrada em rock de verdade, bocetinhas burguesas em disponibilidade &, mais importante: tinha a Minha marca de whisky por origem confiável & com um preço tolerável.
Cris herdeira de um monumental patrimônio plebeu de enricados imigrantes que diarreiavam dinheiro, era noiva do Paulão, meu colega de faculdade, integrante de um quatrocentão clã falido desde o tempo das capitanias hereditárias, mas que ostentava dois sobrenomes capazes de transferir pedigree à mais sarnenta cadela vira latas. Um acasalamento de conveniência, perante Deus & os homens, que iria satisfazer à hipocrisia decadente de ambas as famílias. Paulão, no entanto, preferia, por enquanto, trepar com a prima Selene, prometida em casório a um outro primo trouxa rico qualquer. Cães de raças endinheiradas não têm quaisquer escrúpulos em promover o acasalamento de pedigrees consanguíneos, em nome da melhoria da espécie: entenda-se, do capital & seu incestuoso filho, o lucro. Cris, revelada uma depravada putinha de alta sociedade, se transformara em uma confiável foda regular para Mim.
E estava a porca cadelinha Cris punhetando-Me por debaixo da mesa, enquanto recitava imundas obscenidades de porta de privada de puteiro em Meu ouvido, quando o belo par de coxas perfeitamente encaixado numa mini saia vermelha veio, com  despretensioso jeito despreocupado de quem olha o infinito com desinteresse & cravou os olhos claros em Mim: “Não se apressem por mim”.
Foi a dica que o pornográfico exibicionismo de Cris nem necessitava. A ordinariazinha passou a Me masturbar com a velocidade alucinada de um filme acelerado & num minuto soltei um grunhido de gozada capaz de desafinar sinfonia de qualquer Beethoven surdo.
“Não se incomodam que as pessoas vejam?”
“Me interessam apenas vadias como você brilhando o olhar sem conseguirem desviar os olhos.”
O par de coxas na mini saia vermelha esforçou-se em parecer imperturbável, mesmo quando Cris, sorrindo devassidão, passou a lamber com apetite guloso, como se fosse o chantili de seu bolo de debutante, a mão & os dedos esporrados.
“Tem mais coisas que vocês façam pelo prazer infantil de apenas escandalizar?”
O copo de chopp de Cris estava vazio. Levei-o para debaixo da mesa & propositalmente fui o mais ruidoso possível, para não deixar dúvidas sobre o que estava fazendo. O copo retornou cheio de espumante líquido amarelo. Com a fineza & elegância aprendidas nos cursos de etiqueta para moças de famílias ricas, Cris degustou prazerosamente Minha generosa mijada, gole a gole, até a última gota. O deboche de sua expressão  era deliciosamente degenerado a ponto de orgulhar até o supremo depravado Marquês.
Os lábios gostosos da visitante, paralisados na postura de desafio, não conseguiam ocultar a devassidão animal que os  endurecidos bicos das tetas apontavam revoltados sob o tecido fino da blusa, mesmo aprisionados pelo dispensável sutiã. Nos olhos, a luminosidade indesmentível da verdade de prostituta que não conseguia se esconder na social conveniência pequeno burguesa. O forte & enjoativo cheiro salgado do muco de fêmea que encharcava sua cona descontroladamente, quase competia em vitória contra o odor da fumaça dos cigarros. Nenhuma mulher, por mais dissimulada que seja, consegue mentir mentiras de língua seca pela boca umedecida da boceta.
No entanto, precisava manter a pose marmorizada em petulância. Ser feminista, à época, era, prioritariamente, afrontar homens. Pediu uma dose dupla da cachaça mais vagabunda, deu um primeiro  gole de macho, porém, a marca vermelha na borda do copo denunciava sem censura todas as obscenidades contidas pela covardia que ressecavam sua garganta feminina.
Cris passou a ser apenas uma espectadora privilegiada do papo, mas entesada a ponto de não conseguir parar de se masturbar por um instante.
“Então você é o cara que sente prazer em espancar mulheres?”
“Não todas: apenas aquelas que conseguem evoluir da burrice feminina à obediência canina para saberem implorar & desfrutar da sofisticação desse privilegiado prazer. Saber-se submissa dá à mulher certeza maior de existir enquanto fêmea do que olhar para a própria boceta no espelho todo dia.”
“Não acredita que uma mulher possa chegar ao orgasmo sem ser pela dor?”
“Há a necessidade de um sofrer, de uma lágrima, para que o tesão dê verdadeiras gargalhadas de deboche.
“Então é mesmo metido a escritor, como me disseram?”
“Não, apenas um putanheiro que, depois do terceiro whisky garatuja sacanagens em literatices, enquanto alisa o pau por cima do pano das calças escondido em uma quitinete de porta & janela, com espaço pequeno até para mudar de ideia”.
“Um putanheiro que trata todas as mulheres como trapos de carne com que limpa o pau, depois de usá-las como depósito de porra”.
“Uma definição lisonjeira, sem dúvida, mas prefiro ver-Me como um intrépido bocetonauta singrando em noites tempestuosas os mares da putanhice, vivendo aventuras, enfrentando perigos & conquistando vitórias em terras conhecidas & em continentes desconhecidos de carnes de fêmeas nessa Pauliceia Despirocada”.
“Se for apenas questão de resistência à dor, não me amedronta, como não deveria deveria assustar qualquer mulher digna desse nome”, insinuou-se desafiadora.
É inevitável que se queira que gente que fale muito sobre cordas enforque-se com elas. É um papo tão chato que nem precisa ser sádico para desejar isso. Era uma açucarada levantada de bola que Eu não iria desperdiçar para marcar o mais envenenado gol de placa no Coliseu da Sacanagem.
“Lamento muito, burguesinha fantasiada de puta de butique, porém, não estou disponível para ser coadjuvante apalhaçado em sua ópera de hipocrisias. Meu sadismo é Minha Alma; acho que não vou poder vender o que você quer comprar. Mesmo que pareça demônio propondo tratos, não assino pactos com anjos”.
“No orgulho, a coragem se torna imortal”, recitou com impertinência de intelectualerda insolente.
“No sadomasoquismo, o gozo é o túmulo do medo”, retruquei com perversidade sorridente. “Quem ama o prazer despreza o medo.”
Cris estourou numa operística gargalhada de deixar sem graça uma plateia de comédia dos Três Patetas. Toda a caterva do boteco encarou, imaginando o que poderia ser tão engraçado.
“Eu não sou uma de suas putas!”
“Nem se atreva a se julgar Minha puta, antes que Eu decida considerá-la como tal.”
“Para mim não passa de mais um machão inseguro usando a violência como biombo para tentar encobrir uma homossexualidade reprimida, com meretrizes gratuitas como essa sujeitinha aí.”
O sonoro tapa que explodi em sua cara fez o boteco respeitar um único minuto de silêncio naquela noite.
“Toda mulher que quer pagar barato pelo nome de puta será sempre resto de carnes para vira latas no açougue do sexo. Ninguém te chamou aqui. Pode se mandar & leve na bochecha, de brinde, o peso da Minha encoberta homossexualidade reprimida, sua burguesinha escrota”.
Raivosa, abandonou o sorriso insolente na marca de batom grudada na borda do copo. Com expressão de corpo fora da mente & mente fora do tempo levantou rápida como um susto eletrocutado pelo cu, com uma lágrima de ódio no olho esquerdo, virou-se na raiva & foi embora de Minha visão.
O boteco retomou sua animada sonoridade bêbada.
“Dessa vez, acho que foi exagerado até para o teu estilo”, Cris arriscou comentar com um certo amedrontamento no sorriso.
“A bofetada é o espelho que revela com a mais absoluta nitidez a face da alma da puta que se esconde nas entranhas da fêmea. Como diria qualquer crítico literário vagabundo, como Deus, por exemplo, a vida não é um livro de boa qualidade, porque tem muitos diálogos, então, apenas Me chupe por debaixo da mesa, sem falar, pois ainda tem a merda da ricaça para ser limpa de Minha pica. Essa vai voltar, como todas voltam”.
Sem hesitar, Cris passou a empenhar-se em seu ofício de boqueteira sem escrúpulos. Ainda Me restava no saco um tanto de esporra para ela deliciar seu apetite de escrota degradada em paladares fétidos de mijo & merda. E os próximos minutos foram gozada & mijada pura em sua boca, para aliviar Meu escroto & umedecer sua sede de incansável cadela chupadora.
Puxei fundo a tragada do cigarro & sem mais, do nada, apareceu no meio da baforada de fumaça de nicotina, uma tesudíssima mulher sem rosto com um delicioso par de coxas enfiado numa minissaia vermelha sustentando um gostoso corpo de espécime feminino de um nível de delícia entesante que dispensava mais adjetivações & que começa a massagear o meio de Minhas pernas para Me deixar de pau duro. Tenho certeza de que ela deveria ter o rosto da mulher que acabara de esbofetear.

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