Na verdade, o mendigo nunca está muito interessado
na qualidade do prazer que vai tirar da bituca de cigarro que apanha no frio
úmido do cimento da calçada: ela simplesmente está ali, implorando para ser
queimada & ele está sempre com uma louca vontade de fumar.
Naquela noite, a baranga endinheirada que duas ou
três vezes por mês aparecia suplicando por um show de rola já chegou alegrinha:
tinha participado com o marido de um rega-bofe oficial repleto de pais da pátria
filhos da puta. Arrotando hálito de champanhe importado, implorou por um
arrombamento a seco. Para ela, dar a bunda era uma sensação de delícia de um
prisioneiro saído de longa pena, andando num temporal, o que seria incômodo
para a maioria das pessoas. Quase ninguém passando por ali àquela hora noturna.
Vergou-se de bruços no capô do carrão importado, levantou o vestido, arriou a
calcinha (a vagabunda sabia que lhe era proibido usar essa inútil &
incômoda peça de roupa, especialmente em Minha presença) & expôs o piscante
buraco de cu. Iniciei o encaralhamento sem piedade & com três ou quatro
bombadas até o talo, veio o cheiro & percebi que Meu pau estava esmerdeado.
Gritei o protocolar “Puta que pariu!” para o céu da madruga, com um puxão estraçalhei
a calcinha & comecei a limpar o cacete com o caríssimo trapo de seda
enfeitado com rendinhas. A vadia tentou Me xingar de vagabundo, porém, na
segunda sílaba, com uma bela bofetada deixei-a com cara de pano molhado &
coloquei-a de bunda sentada no asfalto garoado. Chorando feito vaca velha
perguntou “Posso voltar amanhã?”. A sola de Minha bota atirou sua face de
maquiagem borrada no chão. Abriu a bolsa, puxou um maço de cédulas: “Eu te dou
dinheiro. Pelo amor de Deus, só não me deixa ir pra casa sozinha comigo mesma”.
Peguei as notas, arremessei-lhe na cara uma estereofônica cuspida carregada de
nicotina & atravessei a rua em direção ao bar do Zé. Não tem jeito, fodas
no frio da garoa da madrugada sempre serão tristes. Da porta, Cris havia
assistido a tudo com uma perversa alegria no sorriso & ao ver Meu caralho
ainda duro como um poste falou “Vamos entrar, que Eu resolvo isso”. Era uma
chupadora atávica. Sua língua não escolhia paladares de limpeza ou sujeira:
desde que tivesse uma pica estufando-lhe a boca, extraía tesão do envenenamento
doce ou da doçura envenenada. Sabores, apetitosos ou repugnantes eram apenas
complementos estimulantes à sua depravação enquanto boqueteira viciosa que não
conseguia ou queria resistir à enlouquecedora deliciosa sugação peniana. Merda
ou mel, açúcar ou veneno, a felação injetava em suas entranhas um tesão
irresistível em cada milímetro de suas carnes de cadela emporcalhada em prazer.
Importava apenas que recebesse um generosa dose de suco de macho esporrada em
seu estômago. E era exatamente o que pretendia lhe proporcionar em troca da
limpeza salivar de Minha caceta.
“É vamos beber toda a grana da burguesa; a escrota
vai curar a bebedeira na cama com o marido que está roncando com o bundão
branco de fora & amanhã acorda madame de novo & na semana que vem volta
como puta”.
Eu nunca precisei de bebedeira para acordar sabendo
sempre o zé ninguém que sempre fui.
Só então, de canto de olho, percebi que, da
esquina, um belo par de coxas perfeitamente encaixado numa mini saia vermelha,
também havia assistido à cena toda.
Eram os tempos mais mal cheirosos do golpe de
estado. Os militares, além de atentos para livrar o país do “perigo soviético”,
também assumiam como “missão patriótica” perseguir garotos de cabelo
comprido, algum descuidado portando ou
queimando um baseado, homem que desse cu para homem, mulher que roçasse boceta
com outra & reprimir qualquer comportamento sexual ou proto sexual que a
“intelligentsia” da caserna considerasse degenerado & incompatível com os
“valores morais de nossa sociedade cristã”. Um horror estúpido.
Expor-se como praticante de sadomasoquismo, então,
era praticamente pedir para ser “morrido suicidado”.
A gente colocava anúncios mais ou menos cifrados em
revista vagabunda de mulher pelada, se comunicava por caixas postais & com
toda a paranoia própria do período, organizávamos encontros & reuniões
discretíssimos preferencialmente em bares & restaurantes; experiências
pessoais trocadas quase como segredos de guerra no clima da neura da época.
O bar do Zé era agradável, porém, o Zé como todo
dono de bar (pra Mim todo dono de bar é Zé) era tagarela &, perigo
indesculpável, bebia feito um afogado sedento. Logo, não resistia a comentar
com quem quisesse & com quem não quisesse ouvir, que de vez em quando ali
se reunia um grupo de doidos que gostavam daquele troço de sadomasoquismo, que
era “aquela coisa de gente matusquela vestida de couro preto dando chicotada em
gente louca pelada que gostava de apanhar”. Inevitável que um certo público de
curiosos de zoológico também fosse ao boteco, com intenção de conhecer algum
daqueles “malucos”. Poucos admitem querer morar no inferno, mas a maioria tem
um perverso desejo de visitá-lo.
Porém, apesar disso, Eu gostava do bar do Zé: lugar
agradável, música de fita centrada em rock de verdade, bocetinhas burguesas em
disponibilidade &, mais importante: tinha a Minha marca de whisky por
origem confiável & com um preço tolerável.
Cris herdeira de um monumental patrimônio plebeu de
enricados imigrantes que diarreiavam dinheiro, era noiva do Paulão, meu colega
de faculdade, integrante de um quatrocentão clã falido desde o tempo das
capitanias hereditárias, mas que ostentava dois sobrenomes capazes de
transferir pedigree à mais sarnenta cadela vira latas. Um acasalamento de
conveniência, perante Deus & os homens, que iria satisfazer à hipocrisia
decadente de ambas as famílias. Paulão, no entanto, preferia, por enquanto,
trepar com a prima Selene, prometida em casório a um outro primo trouxa rico
qualquer. Cães de raças endinheiradas não têm quaisquer escrúpulos em promover
o acasalamento de pedigrees consanguíneos, em nome da melhoria da espécie:
entenda-se, do capital & seu incestuoso filho, o lucro. Cris, revelada uma
depravada putinha de alta sociedade, se transformara em uma confiável foda
regular para Mim.
E estava a porca cadelinha Cris punhetando-Me por
debaixo da mesa, enquanto recitava imundas obscenidades de porta de privada de
puteiro em Meu ouvido, quando o belo par de coxas perfeitamente encaixado numa
mini saia vermelha veio, com
despretensioso jeito despreocupado de quem olha o infinito com
desinteresse & cravou os olhos claros em Mim: “Não se apressem por mim”.
Foi a dica que o pornográfico exibicionismo de Cris
nem necessitava. A ordinariazinha passou a Me masturbar com a velocidade
alucinada de um filme acelerado & num minuto soltei um grunhido de gozada
capaz de desafinar sinfonia de qualquer Beethoven surdo.
“Não se incomodam que as pessoas vejam?”
“Me interessam apenas vadias como você brilhando o
olhar sem conseguirem desviar os olhos.”
O par de coxas na mini saia vermelha esforçou-se em
parecer imperturbável, mesmo quando Cris, sorrindo devassidão, passou a lamber
com apetite guloso, como se fosse o chantili de seu bolo de debutante, a mão
& os dedos esporrados.
“Tem mais coisas que vocês façam pelo prazer
infantil de apenas escandalizar?”
O copo de chopp de Cris estava vazio. Levei-o para
debaixo da mesa & propositalmente fui o mais ruidoso possível, para não
deixar dúvidas sobre o que estava fazendo. O copo retornou cheio de espumante
líquido amarelo. Com a fineza & elegância aprendidas nos cursos de etiqueta
para moças de famílias ricas, Cris degustou prazerosamente Minha generosa
mijada, gole a gole, até a última gota. O deboche de sua expressão era deliciosamente degenerado a ponto de
orgulhar até o supremo depravado Marquês.
Os lábios gostosos da visitante, paralisados na
postura de desafio, não conseguiam ocultar a devassidão animal que os endurecidos bicos das tetas apontavam
revoltados sob o tecido fino da blusa, mesmo aprisionados pelo dispensável
sutiã. Nos olhos, a luminosidade indesmentível da verdade de prostituta que não
conseguia se esconder na social conveniência pequeno burguesa. O forte &
enjoativo cheiro salgado do muco de fêmea que encharcava sua cona
descontroladamente, quase competia em vitória contra o odor da fumaça dos
cigarros. Nenhuma mulher, por mais dissimulada que seja, consegue mentir
mentiras de língua seca pela boca umedecida da boceta.
No entanto, precisava manter a pose marmorizada em
petulância. Ser feminista, à época, era, prioritariamente, afrontar homens.
Pediu uma dose dupla da cachaça mais vagabunda, deu um primeiro gole de macho, porém, a marca vermelha na
borda do copo denunciava sem censura todas as obscenidades contidas pela
covardia que ressecavam sua garganta feminina.
Cris passou a ser apenas uma espectadora
privilegiada do papo, mas entesada a ponto de não conseguir parar de se
masturbar por um instante.
“Então você é o cara que sente prazer em espancar
mulheres?”
“Não todas: apenas aquelas que conseguem evoluir da
burrice feminina à obediência canina para saberem implorar & desfrutar da
sofisticação desse privilegiado prazer. Saber-se submissa dá à mulher certeza
maior de existir enquanto fêmea do que olhar para a própria boceta no espelho
todo dia.”
“Não acredita que uma mulher possa chegar ao
orgasmo sem ser pela dor?”
“Há a necessidade de um sofrer, de uma lágrima,
para que o tesão dê verdadeiras gargalhadas de deboche.
“Então é mesmo metido a escritor, como me disseram?”
“Não, apenas um putanheiro que, depois do terceiro
whisky garatuja sacanagens em literatices, enquanto alisa o pau por cima do
pano das calças escondido em uma quitinete de porta & janela, com espaço
pequeno até para mudar de ideia”.
“Um putanheiro que trata todas as mulheres como
trapos de carne com que limpa o pau, depois de usá-las como depósito de porra”.
“Uma definição lisonjeira, sem dúvida, mas prefiro
ver-Me como um intrépido bocetonauta singrando em noites tempestuosas os mares
da putanhice, vivendo aventuras, enfrentando perigos & conquistando
vitórias em terras conhecidas & em continentes desconhecidos de carnes de
fêmeas nessa Pauliceia Despirocada”.
“Se for apenas questão de resistência à dor, não me
amedronta, como não deveria deveria assustar qualquer mulher digna desse nome”,
insinuou-se desafiadora.
É inevitável que se queira que gente que fale muito
sobre cordas enforque-se com elas. É um papo tão chato que nem precisa ser
sádico para desejar isso. Era uma açucarada levantada de bola que Eu não iria
desperdiçar para marcar o mais envenenado gol de placa no Coliseu da Sacanagem.
“Lamento muito, burguesinha fantasiada de puta de
butique, porém, não estou disponível para ser coadjuvante apalhaçado em sua
ópera de hipocrisias. Meu sadismo é Minha Alma; acho que não vou poder vender o
que você quer comprar. Mesmo que pareça demônio propondo tratos, não assino
pactos com anjos”.
“No orgulho, a coragem se torna imortal”, recitou
com impertinência de intelectualerda insolente.
“No sadomasoquismo, o gozo é o túmulo do medo”,
retruquei com perversidade sorridente. “Quem ama o prazer despreza o medo.”
Cris estourou numa operística gargalhada de deixar
sem graça uma plateia de comédia dos Três Patetas. Toda a caterva do boteco
encarou, imaginando o que poderia ser tão engraçado.
“Eu não sou uma de suas putas!”
“Nem se atreva a se julgar Minha puta, antes que Eu
decida considerá-la como tal.”
“Para mim não passa de mais um machão inseguro
usando a violência como biombo para tentar encobrir uma homossexualidade
reprimida, com meretrizes gratuitas como essa sujeitinha aí.”
O sonoro tapa que explodi em sua cara fez o boteco
respeitar um único minuto de silêncio naquela noite.
“Toda mulher que quer pagar barato pelo nome de
puta será sempre resto de carnes para vira latas no açougue do sexo. Ninguém te
chamou aqui. Pode se mandar & leve na bochecha, de brinde, o peso da Minha
encoberta homossexualidade reprimida, sua burguesinha escrota”.
Raivosa, abandonou o sorriso insolente na marca de
batom grudada na borda do copo. Com expressão de corpo fora da mente &
mente fora do tempo levantou rápida como um susto eletrocutado pelo cu, com uma
lágrima de ódio no olho esquerdo, virou-se na raiva & foi embora de Minha
visão.
O boteco retomou sua animada sonoridade bêbada.
“Dessa vez, acho que foi exagerado até para o teu
estilo”, Cris arriscou comentar com um certo amedrontamento no sorriso.
“A bofetada é o espelho que revela com a mais
absoluta nitidez a face da alma da puta que se esconde nas entranhas da fêmea.
Como diria qualquer crítico literário vagabundo, como Deus, por exemplo, a vida
não é um livro de boa qualidade, porque tem muitos diálogos, então, apenas Me
chupe por debaixo da mesa, sem falar, pois ainda tem a merda da ricaça para ser
limpa de Minha pica. Essa vai voltar, como todas voltam”.
Sem hesitar, Cris passou a empenhar-se em seu
ofício de boqueteira sem escrúpulos. Ainda Me restava no saco um tanto de
esporra para ela deliciar seu apetite de escrota degradada em paladares fétidos
de mijo & merda. E os próximos minutos foram gozada & mijada pura em
sua boca, para aliviar Meu escroto & umedecer sua sede de incansável cadela
chupadora.
Puxei fundo a tragada do cigarro & sem mais, do
nada, apareceu no meio da baforada de fumaça de nicotina, uma tesudíssima
mulher sem rosto com um delicioso par de coxas enfiado numa minissaia vermelha
sustentando um gostoso corpo de espécime feminino de um nível de delícia
entesante que dispensava mais adjetivações & que começa a massagear o meio
de Minhas pernas para Me deixar de pau duro. Tenho certeza de que ela deveria
ter o rosto da mulher que acabara de esbofetear.
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