“Nos salões burgueses simula-se a virtude; nos salões
intelectuais simula-se o vício; entre uns & outros, não sei os que me
despertam mais repugnância”: já
bem dizia o velho Pitigrilli lá pelos trinta do século passado.
Odeio esses eventos
literários, ainda mais quando mesmo repudiando, se é o centro das atenções. Não
podia, no entanto, negar essa noite a Sylvia, pelo tanto que tinha feito, &
continuava fazendo por Mim.
A confraternização
com esses repugnantes bípedes socialmente sorridentes estava sendo
especialmente aporrinhadora, porém, não podia Me queixar: Eu havia exigido que
Sylvia colocasse Norma em Minha mesa, acomodada bem à Minha frente com aquele
seu ridículo maridinho que às custas do dinheiro dela, mantinha sua postura
afetada de manequim andante desfilando pasteurizantes ternos importados.
Sylvia não
precisava adivinhar que Eu planejava vomitar raios & trovoadas na
tempestade de vingança que pretendia descarregar sobre aquela fedelha
insolente, mas preferiu apenas sorrir seu mais perverso sorriso, alisar os
bicos dos seios por cima do vestido & curtir no corpo a eletricidade de
apenas imaginar como seria a Minha desforra.
Um nome, que nos
tempos da ditadura, tornou-se algo além de um mero pseudônimo, transformado,
pelas circunstâncias, num esconderijo involuntário contra a bestialidade do
arbítrio policialesco nos milicos. Como o rock, a literatura não vive sem a
mística & a mítica. Muito graças ao trabalho secreto de Sylvia em sua
pequena editora emergente, com as pequenas edições clandestinas em papel de má
qualidade, Spiritus Fornicator passou a despertar o interesse & até a
admiração como um transgressor do moralismo & não apenas um escritor de
textos sujos de violência sexual recheados de palavrões.
Com a mudança dos
tempos & dos ventos, a revelação da coisa toda, mesmo contra Minha vontade,
era uma inevitável estratégia até mercadológica. Sem maiores estremecimentos, o
reconhecimento veio & tornou-se naturalmente confortável. A princípio um
tanto de dinheiro apreciável, depois um rendimento nada além do medíocre, a
acomodação impôs-se & Spiritus Fornicator virou apenas um escritor de
textos sadomasoquistas com algum destaque garantido pela tradição.
A iniciativa da
reedição compilada dos textos clandestinos, no entanto, fugiu da mera jogada de
marketing. Foi algo que Sylvia, com sua incondicional paixão pela Minha escrita,
sentiu necessidade vital de ofertar à comunidade literária, a ela &,
principalmente a Mim. As releituras críticas, evidentemente, não poderiam
deixar de espelhar novas visões possíveis por novos ângulos iluminados por
novas luzes de outros tempos, porém, foram em sua maioria honestas, mesmo
quando não especialmente favoráveis. Mas justamente a tal de Norma, com sua
burguesinha bunda cor de rosa, que nunca teve de enfrentar qualquer barra na
vida, tinha de, mesmo sem qualquer restrição à qualidade dos textos, cometer a maneirista frase de efeito babaca: “Não se entende porque tanto estardalhaço,
pois não se identifica claramente na escrita sadomasoquista de Spiritus
Fornicator, ao tratar a mulher como mero depósito de esperma & urina, entre
outras secreções, qualquer real denúncia das contradições do capitalismo”?
Dizem que a idade
traz o juízo. Não no Meu caso. Nem os anos são capazes de Me impor aquilo que
repudio.
Depois de duas
taças de vinho, mais um tanto de água, aliados aos insondáveis mistérios do
organismo feminino, nada estranhável que ela enderece aos circunstantes aquele
sorriso semgracista, pronuncie um “Com
licença”, como se necessitasse, com polidez hipócrita, dar ciência ao
universo que pretende esvaziar o líquido
de sua bexiga. Norma rebolando estudadamente seu traseiro classe mérdia
endinheirada dirige-se triunfante ao banheiro para uma protocolar mijada. Nem
imagina que a sigo com uma surpresa inesquecível.
Deus não desampara
os perversos: senão, quem produziria pecados para que ele os abominasse?
Banheiro deserto, Norma
tranca-se no reservado.
Conto mentalmente
os segundos necessários para que ela desça o fecho do trapo colorido com
etiqueta consumista que lojas de New York vendem a deslumbrados terceiro-mundistas
enricados, abaixe as calcinhas de premeditado erotismo otário, sente-se no vaso
sanitário e...
No tranco de ombro,
a porta abre fácil como uma beata com tesão.
A bofetada imediata
não permite que o susto se complete. A mão na boca silencia o medo instantâneo.
O seio esmagado por Minha mão entende a mensagem: a dor vai traduzir os
momentos que agora vierem.
— Abra as pernas,
já! Atreva-se a mijar uma gota sequer desse mijo que tem aí dentro dessas
tripas sem Minha ordem & promovo um show de porradas nessa carinha de
barbie de camelô que nem aquele teu maridinho de encomenda com visual de
cafetão de catálogo vai conseguir te olhar sem vomitar. Imagine então, vadia, o
que acontece se gritar quando Eu tirar a mão de sua boca?!
Funcionou com ela
como com todas: aqueles lindos olhos em contato direto com a maldade dos meus,
impossível de se desviarem, presos pelo medo & pelo fascínio da violência,
num hipnotismo em plena consciência.
Abri a calça &
coloquei meu pau começando a endurecer a milímetros de sua boca.
— Dizem que vontade
de urinar é contagiosa como bocejo. Acredito que tenho uma boa dose de mijo de
macho com urgência de não controlar por muito tempo pronta para ser esguichada.
Melhor então abrir essa boquinha deliciosa & tratar de beber cada gota,
pois para Mim é indiferente te molhar dos pés à cabeça & te jogar toda
mijada bem no meio desse salão cheio de pessoas de bom gosto.
— Você é um louco nojento!
— Não, patricinha,
sou apenas o seu mais degenerado pesadelo de vadiazinha de boa reputação vindo
te assombrar na tua realidade acordada. Acha que alguém vai acreditar que um
escritor afamado, praticante experiente de sadomasoquismo, com uma fila de
fêmeas implorando para serem usadas por ele atacou & tomou à força uma
putinha sem sal como você, num dos templos da cultura do país, bem em frente
aos mais empinados narizes burgueses da nação? Se quiser tentar o escândalo...
além de não ter nada a perder ou temer, provavelmente vou ter uma publicidade
extra que vai ser ótima para a vendagem de Meus livros.
A crueldade cínica
era inquestionável: estava aprisionada na armadilha & sabia não poder nem
mesmo se debater.
— Minha mãe te fez
Giácomo & ela vai te destruir quando souber disso.
— Giácomo foi feito
pelo homem & pela mulher. Spiritus Fornicatur foi cagado no mundo pelo
demônio que ficou tão fascinado pela merda que fez que esqueceu de inventar a
fórmula para Me destruir. Abra a boca & beba!
A repugnância
inicial era genuína, como mulher, jamais havia experimentado tal extravagância;
no entanto, mesmo com alguma imperícia conseguia engolir com regularidade o
jato quente & espumante; tão logo um tanto se armazenava em sua boca, um
gole generoso descia por sua garganta. Sem que se apercebesse, Meus
experimentados sentidos logo identificaram, seu sua mente foi se adequando à
rotina & seu corpo antes rígido pelo medo & pelo asco começou a
arredondar-se em sutis contorções de... prazer... sim, de prazer.
— Nem pense em
querer aliviar tuas necessidades. O teu mijo, continue segurando nos porões da
boceta.
Barulho. Duas
barangas entram no banheiro falando bobagens pelos cotovelos. Com a rapidez do
instinto, agarro-a pelos cabelos & enterro meu caralho inteiro em sua boca.
O punho fechado ameaçando murro faz seus olhos brilharem arregalados de pavor.
Medo de apanhar? Medo de sermos descobertos?
Ameacei baixinho em
seu ouvido
— Atreva-se a
engasgar & essas duas mocreias vão te ver sair daqui debaixo de porrada com
as calcinhas nos joelhos, toda mijada & sendo chutada até engolir de volta
tudo o que vomitou.
Devorar caralhos não
devia ser novidade para ela. Com habilidade de profissional, agasalhou sem
esforço maior meu pau em sua boca & mesmo com o engrossamento inevitável, Norma
chupava de uma maneira que permitia que Eu quase continuasse a mijar quase que
diretamente em seu estômago.
As duas mulheres
demoraram uma eternidade, falando besteiras sem parar. Meu estoque de mijo foi
inteiramente derramado nas entranhas de Norma sem qualquer perda & agora
meu pinto apenas descansava acomodado no calor úmido de sua saliva. Senti suas
mãos apertarem Minhas nádegas: a ordinária forçava para que Eu entrasse mais
& mais em sua boca. Como Eu sempre digo: depois de competentemente
detonado, o limite do tesão de uma mulher é ter mais & mais tesão sem
limites.
As velhas
finalmente saíram & percebi que Norma estava quase sufocada. Arranquei com
determinação a rola de sua boca & apliquei-lhe nova bofetada, deliciado com
o ruído de sua face estapeada. Com as costas da mão limpou um tanto de baba
que, não conseguia evitar, escorria pelo canto de seu lábio espancado.
— Por Deus,
Giácomo, vou me submeter ao que quiser fazer comigo, mas não aguento mais:
preciso urinar.
— Cadelas mijam,
vagabunda! E ainda falta o segundo ato. Esqueceu-se que Spiritus Fornicatur faz
de toda mulher um depósito de urina & esperma?
— Por favor, estou
menstruada.
— Como se isso
fizesse alguma diferença em algum momento. Mas não se preocupe, o lugar onde
vou depositar Minha porra só verte sangue quando uma preguinha mais teimosa
demora a se arreganhar.
— Não isso não!
O medo era
autêntico: ou nunca havia sido enrabada, ou tivera alguma experiência
desagradável ao dar o cu. Seu temor em desamparo era o combustível que faltava
para abrir de vez o apetite canibal de Meu sadismo.
Com assassina
habilidade de açougueiro colei-a contra os azulejos, com destreza de putanheiro
separei suas nádegas & com a certeza do cego que encontra o caminho até de
olhos fechados acomodei a cabeça de meu pau em seu buraquinho nervoso que, num
descuido natural, acomodou-se por um instante. Fatal. Numa arremetida decidida,
fiz todos os milímetros de carne de Meu caralho invadirem sem piedade aquele
cuzinho hesitante.
Distração
imperdoável: o grito que a porca soltou poderia ter ser ouvido até num asilo de
surdos. Minutos tensos enquanto ela grunhia na palma de Minha mão. Nada.
Ninguém. Animais, respirávamos em espasmos.
Seu ânus se
contraía defensivo, para logo em seguida alargar-se pelo esforço inútil. Eu ia
& vinha, mentalmente berrando um rock selvagem. Suas lágrimas escorriam quentes pela pele de Minha
mão, seu cu era fervura incandescente, maravilha anal quase como que punhetando
Meu pau. Logo era um dilatado buraco de carne umedecendo meu caralho com a
estranheza de uma liquidez pegajosa. Meus dedos se intrometiam em sua boceta,
vinham emporcalhados de sangue & eram imediatamente sugados até a limpeza
por uma língua agora depravadamente faminta. Norma não mais resistia, superara
a entrega conformada. Sua bunda arrombada agora vinha decidida de encontro ao
meu corpo eletrificando meu pau a cada estocada dolorida.
Pode ser que um
raio não caia duas vezes no mesmo lugar, mas se não ouviram o grito dela, por
que escutariam Meu urro de gozo?
Imagens literárias
são sempre exageros hiperbólicos, mas a quantidade de porra que Eu estava
vomitando no interior daquelas carnes parecia não querer acabar. O rock virou
um blues dolente & depois uma balada sacana. As respirações de aquietaram
na normalidade do pós foda. Ela foi se ajoelhando; me olhava implorando por uma
pausa à sua exaustão.
Então, talvez a
mais temida das que ainda faltassem em seu repertório de expressões de pavor: Norma
cobriu seu rosto com uma deslumbrante máscara de pânico, que poucos dominadores
conseguem vestir na face de uma cadela submetida, ao encarar Meu pau
endurecido, sacado de seu rabo, não exatamente imaculado.
— O
que esperava de diferente que saísse de seu cu de menina rica? Essa é uma das
contradições do capitalismo que sempre denunciei em meus textos & você não
soube, ou não teve coragem de ler.
Seu átomo de
hesitação não teve tempo de defesa. Agarrei-a pelos cabelos, enfiei em sua boca
até quase obrigá-la a engolir Minhas bolas. Manipulava sua cabeça com a
selvageria de um alucinado, obrigando-a a ir & vir sem parar até... até
que, voluntariamente, Norma continuou sua tarefa até deixar Minha rola limpa,
brilhante em saliva, como se pronta para uma punheta após confissão de primeira
comunhão.
Enquanto ajeitava
Minhas roupas ela se recompunha bonequinha de luxo como podia nas
circunstâncias.
— E pensar que o
grande Spiritus Fornicatur iria revelar-se, na penúltima gargalhada de vida,
como um mero estuprador.
— Já para Mim não
foi surpresa que a “Miss Cocô de Ouro”, apesar da hipocrisia de conveniência,
se revelasse na foda uma puta devassa como qualquer fêmea devidamente
estimulada.
— Não confunda as
reações animais de meu corpo, com meus desejos, Giácomo. Preferi não encarar o
escândalo, mas vou contar tudo à minha mãe & então você estará acabado.
— Então, não vamos
deixá-la esperando.
Tirei o cinto,
lacei seu pescoço & a fui conduzindo como uma cadela bípede. O corredor dos
banheiros deserto. A porta de emergência logo ao lado. As escadas até a garagem
sem ninguém.
Não foi difícil
localizar o quase exclusivo automóvel esporte importado com que ela deslizava
impertinente pelo asfalto sujo da cidade. Atirei-a com violência contra a
lataria brilhante da tolice supérflua sobre rodas.
— Você é exatamente
como seu carro, Norma: linda, potente, cara, porém, sem estilo. Você acredita
que o dinheiro compra tudo, mas o dinheiro compra apenas aquilo que tem preço
& que esteja à venda. E você é uma mentira sem preço que ninguém quer
comprar. Na qual nem mesmo você acredita, mas que insiste em querer vender ao
mundo.
Ódio puríssimo no
sangue dos olhos, o cinto enrolado no pescoço, retrato acabado da cadela
enraivecida pronta a atacar, quando...
— Apenas um
escritor com tanto talento como você saberia definir a mediocridade
personificada nesse fantoche de duas pernas que é o meu fracasso de filha.
Sylvia tinha uma
expressão de desalento, embora gratificada, quando saiu detrás das sombras do
carrão esporte.
Ao ver a mãe
encarando-a com censura, Norma não mais conseguiu se segurar. Atirada ali no
chão, desânimo patético, o fino tecido azul encharcando-se em sua própria
urina, como se o vão de suas coxas vertesse doído & lento pranto de mater
dolorosa, parecia um tinteiro quebrado pela tristeza.
Tirei o bloco do
bolso, rabisquei alguma coisa & entreguei a Norma que leu em voz alta.
— A
grande contradição do capitalismo é a mesma dos porcos, que são repulsivos,
engordam na imundície, porém, produzem uma carne deliciosa.
— Engula! – Eu
disse – de agora em diante você vai implorar para que Eu não deixe apagar o
fogo do inferno de maravilhas com que acabo de incendiar sua alma por boceta
& cu & Eu vou mastigar com perversidade cada momento de sofrimento
dessas suas carnes de leitoa burguesinha até tê-la transformado numa verdadeira
fêmea de uso.
Lentamente, com
puxões decididos, Norma foi rasgando o vestido, arrancou sutiã & calcinha
& pôs-se numa para a luminária florescente com defeito que gaguejava
luminosidade para o eco do cimento da garagem.
Sylvia retomou a
altivez que o mundo tão bem conhecia.
— Você está tendo, Norma,
a chance que só Me apareceu um tanto mais tarde na vida. Não se preocupe com o
idiota de seu marido; ele tenta Me comer desde quando começaram a namorar;
hoje, quando eu abrir as pernas para ele, em sua vaidade imbecil, pensará que,
finalmente conseguiu. Não se preocupe, ele não saberá o que também seu pai
jamais soube enquanto esteve vivo.
Entramos no carro, Norma,
linda com o cinto enrolado no pescoço, deu
partida no motor.
— Que seja, então,
na cama de meu marido.
Quando nos afastávamos
lentamente, olhei para o vidro traseiro: Sylvia, sorrindo vitoriosa, levantava
o vestido & exibia a boceta que há tantos anos vem franqueando como
playground para o Meu sadismo.
A cidade, tremendo
no frio da noite desse 16 de junho, assistia o carro esporte importado deslizar
quase levitando pelo asfalto de suas ruas, sem poder adivinhar que, por trás
dos vidros escurecidos, era pilotado por uma mulher recém nascida de vinte
& três anos, maravilhosamente nua, fedendo a mijo & a suco de boceta.